Palavras: ainda a pirataria da tropa
Continuando a polêmica em torno de tropa de elite
(uma delas, a da pirataria do filme
pois tem outra, a da idealização do Bope)
não percam o excelente artigo de
de Cezar Migliorin
no site da Cinética
analisando a "pirataria" como uma modificação da produção diante do capitalismo atual.
Um novo mundo
outras noções de direitos e autorais
outra visão do lucro
e da co-criação e co-fruição de obras.
A noção de propriedade sobre a qual se baseiam os argumentos de Padilha é aquela da era industrial e, se ainda não foi destruída pelos juristas e governos, está sendo cotidianamente ultrapassada por desejos e gestos muito mais democráticos. Trata-se de uma noção de propriedade que não autoriza excluir o que foi produzido por toda sociedade: a cultura, o cinema, a educação, o Bope, a violência, a favela, etc. Este “direito de acesso” deve se impor ao “direito de excluir” a um bem imaterial.
(...)
Tropa de Elite é baseado na experiência de profissionais do Bope. Esta experiência é pessoal e social, passa pelo fato de serem funcionários públicos e atuarem no Rio de Janeiro, em lugares públicos e conhecidos e com as pessoas da cidade. Trata-se de uma obra de ficção, claro, mas absolutamente enraizado em uma experiência coletiva. O filme se funda na experiência das pessoas que estão vendo o filme, que moram no Rio e que, de alguma maneira, participam daquela história. Isso é parte importante do sucesso do filme. A indústria cultural se organiza em torno de experiências compartilhadas e transforma em mercadoria o que é coletivo. Assim foi durante esse século. O que o caso de Tropa de Elite deixa também explicito é a dificuldade de esta mesma indústria limitar o acesso ao que pertence a todos em sua origem.