É importante entender o que está acontecendo. Tem muita gente perplexa com o número de medidas absurdas tomadas de imediato pelo governo golpista. Ministros corruptos, o fim do ministério da cultura, da representação de mulheres, da população negra etc etc. Dá até a impressão de que os golpistas estariam cometendo algum erro, exagerando, pois pareceria óbvio que isso gerará muita insatisfação e revolta, que é escancarado demais. Mas não é assim que funciona.
O golpe está utilizando uma doutrina de guerra conhecida, a doutrina do “shock and awe” (choque e pavor), muito explicitada e comentada na época da invasão americana do Iraque de 2003. Quem não conhece procure no Wikipedia.
A doutrina do choque é baseada na idéia de executar uma série de ações rápidas, no uso avassalador da força no começo da batalha, para “paralisar a compressão do adversário e destruir sua vontade de lutar”. É assim que se tomam medidas aparentemente desproporcionais. O resultado é deixar o inimigo (no caso, nós) paralisado, atônito, ou em pânico. Isto é um gesto deliberado, calculado, estudado. E funciona.
Olhe ao seu redor. O que mais se escuta é “é absurdo demais o que está acontecendo”, “meu deus eu não consigo nem mexer direito, é tanta destruição”, “como podem tão rápido terem feito tantos absurdos?
Pois eles sabem exatamente o que estão fazendo. Estão em guerra contra uma boa parte da população. A resposta adequada é não se surpreender, manter o foco, não desesperar. O objetivo do golpe agora é deixar as pessoas paralizadas durante este período de impeachment para justamente evitar o máximo as manifestações.
Os golpistas planejaram isso por meses, se não anos, por isso o ar de confiança que sempre exibiram. Colocaram todas as peças no tabuleiro: chocar a população mais à esquerda com uma verdadeira hecatombe institucional, blindar os resultados desastrosos do processo com uma mídia completamente e explicitamente investida no golpe e, abertamente, posicionar os mecanismos de repressão mais eficazes e truculentos para conter qualquer resposta organizada.
O Ministério da Justiça, fundido com o de Direitos Humanos, é que nem uma placa “cuidado cão-guarda”, não é por acaso, nem por princípio que colocaram o advogado de facção criminosa, é por cálculo. Do ponto de vista deles, não há outra opção, é isso. É guerra. Se fizessem menos do que isso, numa tentativa de conciliar, a nossa resposta seria muito maior, porque não estaríamos atônitas e atônitos. A guerra tem as suas técnicas seculares. Essa é uma delas".
Prossigamos na luta!
HEITOR LISBOA