"O objetivo da contracultura, na qual me tornei guru, mesmo sem
querer, era de um novo conhecimento extra-acadêmico, que ultrapassasse
os limites acadêmicos tradicionais. Por isso houve na Inglaterra,
principalmente, mas também nos Estados Unidos, um esboço das chamadas
anti-universidades, em que haviam cursos livres. Você podia dar o curso
que bem entendesse, desde química a alquimia e magia, qualquer coisa.
Tudo cabia na universidade, eram conhecimentos sem os limites acadêmicos
que dizem “isto é ciência, isto não é ciência, isto é pseudociência,
isto é superstição, isto é maluquice”. Aí se ensina uma ciência “séria”.
A universidade estabelece todos esses parâmetros."
" Eu tenho uma convivência tão boa, tão frequente com a morte, que
fiquei gostando muito de um negócio que li no Carlos Castaneda: a morte
fica à distância de um braço, se você se acostumar com a sua morte, ela
passa a ser uma indiferença, não tem mais importância, não mete mais
medo. Me lembro muito de um amigo, que era muito fã da filosofia
existencialista e traduziu O Ser e o Nada para o português. Paulo
Perdigão estava doente e condenado, sabia que não tinha chances. Ele me
disse assim: ‘Maciel, sei que vou morrer e não estou dando a mínima! Não
me perturba em nada. De noite eu durmo igual, acordo igual, não tô nem
aí!’ (risos). Eu achei que era um comportamento muito autêntico, em face
da realidade da morte"
"o principal legado da contracultura foi
individual, foi dos indivíduos. Os movimentos são insignificantes, nunca
juntaram muitas pessoas, sempre foram movimentos bem minoritários.
Falam de 500 mil pessoas em Woodstock, nos Estados Unidos. Imagina,
aquela garotada estava de férias, eles não estavam virando hippies. Eles
foram passar três dias de férias, tomando banho de rio nu, namorando,
queimando fumo. Depois voltaram direitinhos pras universidades, pras
suas carreiras. Não teve um grande número de pessoas. Aqui no Brasil
também. Meia dúzia de gatos pingados. Agora, se você considerar
individualmente certas pessoas, você vai ver que as experiências delas
as modificaram, abriram horizontes. Mas isso é o indivíduo."
leia mais:
O ser e o tempo de Maciel – Revista Bravo! – Medium: A fusão entre vida e ideias se manifestava em qualquer conversa do jornalista e ensaísta Luiz Carlos Maciel (1938–2017), o principal pensador da contracultura brasileira, morto no último 9 de…