Bolsonaro está diante de um dilema que pode explicar sua conduta dúbia diante do caso Moro. Há dois dias, William Bonner leu seca declaração presidencial de "irrestrito apoio" oficial ao pato manco de Maringá. Ontem, o capitão fugiu de uma coletiva ao ser perguntado sobre o assunto. Seus auxiliares - Heleno, delegado Waldir e outros folclóricos - esfalfam-se em lorotas de baixa credibilidade.
Se Bolsonaro apoiar decididamente o ex-juiz, corre o sério risco de se lambuzar diante das evidências que podem vir das próximas revelações do Intercept. Se já é difícil manter a cara de paisagem frente ao que veio a público, a vida pode ficar mais difícil nos próximos dias.
Se lançar seu ministro às feras, estará se livrando não apenas de seu principal cabo eleitoral, mas do produtor central do cenário político que viabilizou sua vitória eleitoral: a condenação e prisão de Lula, os vazamentos seletivos que derreteram a imagem do PT em parcelas da opinião pública e a criação de um clima punitivista para a eleição de um salvador da pátria. Em outras palavras, se demitir Moro, tacitamente admitirá que sua chegada ao Planalto está envolta nas brumas da fraude e da manipulação da opinião pública.
Moro não é Gustavo Bebianno, cuja queda preencheu uma lacuna, como diria Stanislaw Ponte Preta.
Com todo o muro de contenção erguido à sua volta - cujo chefe de obras é o Jornal Nacional - a blindagem até aqui construída parece ser de papelão.
Papelão como substantivo e como adjetivo.