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  • O BRASIL EH O QUE ME ENVENENA MAS EH O QUE ME CURA (LUIZ ANTONIO SIMAS)

  • Vislumbres

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    Fragmentos de textos e imagens catadas nesta tela, capturadas desta web, varridas de jornais, revistas, livros, sons, filtradas pelos olhos e ouvidos e escorrendo pelos dedos para serem derramadas sobre as teclas... e viverem eterna e instanta neamente num logradouro digital. Desagua douro de pensa mentos.


    sábado, abril 06, 2024

    A grande árvore da Mata do Fundão


     AMORIM

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    Autorretrato em São Cristóvão | Self portrait in São Cristovao


     

    A million tons, every two minutes

     Jeffrey St. Clair >>

    + A million tons: the amount of ice Greenland loses every two minutes.

    + Every day for the last 12 months, global sea surface temperatures have broken records.

    + In 1993, the US Forest Service fought wildfires on 1.79 million acres. By 2021, the number of burned acres had more than quadrupled.

    + In 2019, 149 million people worldwide were classified as ‘acutely food insecure’ – meaning they did not have enough food to meet their daily nutritional needs. Only four years later, that number has more than doubled to 333 million. One leading cause has been droughts and crop failures attributed to climate change.

    + In the first two-and-a-half months of 2024, more than 10,000 wildfires have burned across 11,000 square kilometers of the Amazon, according to real-time satellite monitoring, a record number for this early in the year.

    + Lula has made lofty pledges to address climate change and protect the environment, goals that will prove very challenging to meet if Petrobras, Brazil’s state-run oil company, goes forward with its plans to significantly boost oil production, with the goal of becoming the world’s third-largest oil producer by 2030.

    Filhas de Iemanjá - Fabiana Cozza



    Ela chegou do mar dizendo em IorubáQue veio semear cá nessa aldeiaLonge dos seus desvãos com suas negras mãosFoi enterrando os grãos todos na areia

    Uma advogada nos porões da tortura

     

      Diários de defensora de presos políticos durante a ditadura são publicados em livro e inspiram monólogo com Andrea Beltrão 

    "As páginas de Mércia intercalam descrições sobre o estado deprimente dos presos depois de sessões de torturas, conversas duras com militares e policiais e, sobretudo, momentos de atenção e carinho com mães desesperadas que batiam à sua porta, quase todos os dias, em busca dos filhos desaparecidos. Depois de confiar, num momento de aflição, seu recém-nascido a uma vizinha, ela tentou cuidar dos filhos de outras famílias como se fossem seus."

    "Recebi o pai de Ramires, aflito com a notícia da morte do filho. () O velho me falou: ‘Sinto como se o mundo caísse; estou partido, mas se ele voltasse a viver, e quisesse trilhar o mesmo caminho, não o impediria’. O Sr. Francisco estava pálido, eu comovida; era a dor muda, sem blasfêmias nem lágrimas, era a amargura que tira a doçura da vida e a tranquilidade dos lares. Apertei-lhe a mão e chorei; senti que o silêncio era mais prudente. Abri a porta, e o velho mergulhou na noite."

    mais na resenha de HELENA ARAGÃO



     

     

    Gloria: In Excelsis Deo - Patti Smith



    Jesus died for somebody's sins, but not mineMeltin' in a pot of thievesWild card up my sleeveThick heart of stoneMy sins, my ownThey belong to me, me

    sexta-feira, abril 05, 2024

    'A rivalidade por trás da série da Netflix que terminou com bilionário assassinado e advogado condenado à morte

     "Para os fãs de O Problema dos 3 Corpos, que apresenta uma civilização alienígena e tem como pano de fundo a Revolução Cultural da China, os paralelos eram claros.

    "Pelo menos sabemos que Xu Yao e Lin Qi leram O Problema dos 3 Corpos completamente. Perca sua humanidade e você perderá muito; perca sua natureza animal e você perderá tudo", diz um comentário na rede chinesa Weibo."

    leia mais >>

    'O Problema dos 3 Corpos': a rivalidade por trás da série da Netflix que terminou com bilionário assassinado e advogado condenado à morte - BBC News Brasil

    Gazan hostages at Israel's Sde Teiman "concentration camp"

     

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    Thread by @muhammadshehad2 on Thread Reader App – Thread Reader App

    10 pessoas ao poente



     

    Os militares continuam à espreita



    GALVAO BERTAZZI

     

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    FBC - ESTANTE DE LIVROS ft. Don L



    Logo você, que só lê livros no KindleRoubar os meus foi a maior sacanagemNem Baudelaire escreveria tão bemQuanto mal eu me sinto vivendo seu personagem

    MARACANÃ


     

    Tia Mimi


     

    Uiara (Encantada da Água) - Vida e cura

    Deporsche do acident

    MOR 

     
    ARNALDO BRANCO 
     

     
    LADINO 
     

     

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    Zé Ibarra - San Vicente (Fernando Brandt = Milton Nascimento)



    Coração americanoAcordei de um sonho estranhoUm gosto, vidro e corteUm sabor de chocolateNo corpo e na cidadeUm sabor de vida e morteCoração americanoUm sabor de vidro e corte

    Beyoncé - I'd Rather Go Blind

    quinta-feira, abril 04, 2024

    A cultura brasileira de golpes de Estado


    "Para melhor refletir sobre o golpe de 31 de março de 1964, precisamos retirá-lo de seu contexto fragmentário como se fosse um evento único. A percepção fragmentária é, aliás, precisamente o que permite que a ideologia e a percepção superficial do mundo possam dominar nossa consciência e reger nosso comportamento. Sem a devida reconstrução histórica não compreendemos a lógica social maior que determina tudo que acontece na vida social. Daí que seja tão importante reconstruir e relembrar como foi formada a nossa “cultura brasileira de golpes de Estado”."

    leia artigo de JESSÉ SOUZA

    A cultura brasileira de golpes de Estado

    Ladroes de Galinha



    AROEIRA

     

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    Maior parte da imprensa brasileira apoiou golpe de 1964

     

     

     

    Oscar Pilagallo  

      imprensa brasileira, esta Folha inclusive, desempenhou papel relevante na conspiração contra o presidente João Goulart e, em 31 de março de 1964, apoiou com entusiasmo a deflagração do golpe militar, antes mesmo que ele fosse consumado.

    Com exceção do "Última Hora" –que nascera em 1951 para apoiar o projeto trabalhista de Getúlio Vargas e, depois, de seus herdeiros políticos–, os jornais fustigaram com intensidade crescente um governo democraticamente eleito, preparando a opinião pública, durante meses, para a intervenção que rasgava a Constituição do país.

    No Rio de Janeiro, os principais concorrentes locais deixaram de lado as disputas comerciais para se unir num projeto comum.

    Em fins de outubro de 1963, cinco meses antes do golpe, entrou no ar a Rede da Democracia, um programa em que as rádios Jornal do Brasil, Globo e Tupi, dos Diários Associados, juntaram esforços para combater o que identificavam como ameaça comunista. O acordo foi costurado pelos próprios donos dos veículos: Nascimento Brito, Roberto Marinho e um representante de Assis Chateaubriand, respectivamente.

    A repercussão ultrapassava largamente o alcance das frequências das três rádios fluminenses. O programa era retransmitido em centenas de emissoras espalhadas pelo país e, mais tarde, transcrito nos grandes jornais.

    Embora tivessem o mesmo objetivo –derrubar Jango–, os veículos do Rio se diferenciavam pelo alvo da artilharia. Marinho, tendo em vista uma demanda por um canal de TV, evitava a crítica direta ao presidente, com quem mantinha aberto um canal de comunicação. O Globo focava o governo, não o governante, ao contrário dos outros, que personalizavam os ataques na figura de Goulart.

    Não por acaso, fuzileiros navais obedientes a um militar fiel a Leonel Brizola –cunhado e apoiador de Jango– invadiram as sedes do JB, Globo e um jornal dos Diários Associados, além da Tribuna da Imprensa, nas primeiras horas do golpe.

    Os editoriais resumem a participação dos jornais no golpe. O tradicional Correio da Manhã entrou para a história com os títulos "Basta!" e "Fora!", publicados em 31 de março e 1º de abril. O prestigioso JB celebrou "a vitória da democracia" contra "a implantação de um regime comunista". E o Globo, um vespertino com penetração limitada, festejou na capa no dia 2: "Vive a nação dias gloriosos", escreveu, atribuindo o desfecho da ação militar à "Providência Divina".

    O início do golpe, no entanto, foi uma surpresa para a imprensa, assim como para os principais articuladores da ruptura na caserna, como o general Castello Branco. A ação foi precipitada por Olympio Mourão Filho, general que comandava as tropas de Juiz de Fora e não estava entre os protagonistas dos planos para derrubar Jango. Ele deu início às mobilizações na madrugada de 31 de março.

    Em São Paulo, o sinal mais nítido de que a imprensa passou a agir conjuntamente para afastar Jango foi a aproximação, às vésperas do golpe, dos arqui-inimigos Assis Chateaubriand e Júlio de Mesquita Filho, dono do jornal O Estado de S. Paulo.

    A diferença na atitude dos principais veículos limitou-se ao nível de engajamento de seus proprietários. Se quase todos franquearam as páginas dos jornais aos propósitos golpistas, houve quem fosse além, abrindo as portas de seus gabinetes aos conspiradores.

    Mesquita foi além do apoio editorial do Estadão, então o principal jornal de São Paulo. Em janeiro de 1962, mais de dois anos antes do golpe, recebeu na sede do matutino um general –Orlando Geisel, irmão do futuro presidente Ernesto Geisel– que o sondou sobre a ideia de instaurar uma ditadura. A resposta é uma carta intitulada "Roteiro da revolução", que exorta os militares a intervir.

    Mais tarde, sairia da sala de Mesquita um documento em tudo semelhante a um ato institucional, prevendo até a suspensão temporária de garantias constitucionais.

    Quanto à Folha, teve influência relativamente menor –do tamanho de sua importância na época. A empresa que edita o jornal havia sido comprada em 1962 por Octavio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho, e os empresários trabalhavam para saná-la financeiramente antes de investir no setor editorial.

    No discurso, porém, a Folha não se distinguia da concorrência. Contribuía para a difusão de teses antipopulistas e conclamava as elites à ação coordenada, com um tom cada vez mais alto. O jornal trabalhava com a hipótese de que Jango pretendia dar um golpe ou realizar uma manobra continuísta.

    A deposição do presidente contou até com a criação de um jornal popular para fazer contraponto ao Última Hora. Foi o Notícias Populares, que nasceu em outubro de 1963 financiado por Herbert Levy, um político da UDN (União Democrática Nacional), o principal partido de oposição a Goulart. Anos depois, já sem essa função, o NP seria incorporado ao Grupo Folha.

    Ao longo das duas décadas de ditadura militar, os veículos sofreram censura, passaram a criticar o governo e, sobretudo após a redemocratização, se penitenciaram por terem apoiado o golpe.

     FOLHA 

     

     

    5 Paquetaenses




     

    YKENGA



    LADINO

     

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    Vou Por Aí - Baden Powell



    Vou por aí (Baden Powell e Aloysio de Oliveira) – Baden Powell (violão), Edson Lobo (contrabaixo), Chico Batera (bateria) e Maurício Einhorn (harmônica)

    Página infeliz da nossa historia

     


    KLEBER
     

     
     
    QUINHO

     

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    Fantastic Negrito - I'm So Happy I Cry ft. Tarriona "Ta...



    I shoulda wanted more but I was willing to settle Now I'm hot like a crock pot Steamin' up the kettle Caught between my feelings Like I'm Malcolm in the MiddleGave up, gave up, gave upI never gave up, never gave up

    quarta-feira, abril 03, 2024

    preto & branco | black & white


     

    YKENGA



    YKENGA

     

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    Caroline Polachek - Bunny is a Rider



    Bunny is a riderSatellite can't find herNo sympathyHmm, ain't nothing for free

    O golpe de 1964, os golpes de 2016/18 e os de 2022/23 são a mesma coisa

      

    "Ilude-se quem imagina que o golpe de 1964 foi uma ação fulminante de sucesso incontrastável organizada durante poucos meses. Não. 1964 foi a sexta tentativa militar de golpear a democracia brasileira.

    A primeira delas, em 1954, quando os militares lançaram um manifesto no qual exigiam a renúncia imediata de Getúlio Vargas como única alternativa ao golpe em articulação. A tentativa foi contida pelo suicídio de Getúlio, que mobilizou o país contra os golpistas..

    O bastão de 1954 foi passado de mão em mão, de geração em geração de militares, ininterruptamente. Quem imagina que o bastão de 2022/2023 não será passado adiante não entendeu nada da história do país."


    mais na análise de MAURO LOPES
    O golpe de 1964, os golpes de 2016/18 e os de 2022/23 são a mesma coisa - Por Mauro Lopes | Revista Fórum

    O homem que só se informava...



    ARNALDO BRANCO

     

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    Imprensa apoiou ditadura no Brasil: historiador explica os veículos que colaboraram com os militares

     

      "Diferentemente do que sugere certa memória de uma imprensa oprimida pela censura, a grande imprensa foi, em geral, mais apoiadora da ditadura do que o contrário. Embora tenha havido episódios de censura prévia, os atritos foram pontuais. No geral, ela foi uma grande entusiasta do golpe e da ditadura. Isso não significa que esses jornais que apoiaram o regime não tiveram atritos com a censura, mas isso não os colocava no campo de oposição ou de resistência à ditadura, pois as relações são muito mais complexas e não se resumem a leituras binárias ou simplistas.

    Esse apoio manifestava-se, por exemplo, por meio da divulgação de editoriais que legitimavam as ações golpistas, endossando a campanha pela desestabilização do governo João Goulart e criando um clima favorável na opinião pública para que o golpe acontecesse. Também se manifestava por meio da condenação das atividades de oposição à ditadura, criticando o comunismo e as esquerdas em geral, e, claro, por meio do apoio às propostas da ditadura e aos próprios ideais que nortearam a chamada 'Revolução de 1964'.

    Além disso, houve apoio material, como o fornecimento de veículos pelo Grupo Folha à Operação Bandeirante (Oban), um centro de investigações ligado ao Exército que combatia organizações de esquerda. Esses veículos eram utilizados na repressão, conforme relatado pela historiadora Beatriz Kushnir em seu livro "Cães de Guarda". Essa versão foi corroborada pela Comissão Nacional da Verdade em 2014. "


    mais na entrevista com JOAO THEOPHILO
    feita por Ivan Longo

    Imprensa apoiou ditadura no Brasil: historiador explica os veículos que colaboraram com os militares | Revista Fórum

    Feira de Sao Cristóvão


     

    Arrepios

     



    MARIO BAGG

    Apoptygma Berzerk - Ohm sweet Ohm (Kraftwerk)

    a ultima (mesmo) do Ykenga


     

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    Marionetes

      OS MILITARES, INSUFLADOS PELOS SENHORES, DERAM O GOLPE. MAS QUEM PUXAVA AS CORDAS ERAM OS NORTEAMERICANOS

     "Está mais do que provado há tem-
    pos que a participação da CIA e de ou-
    tras agências norte-americanas no gol-
    pe foi decisiva. Washington foi genero-
    sa na transferência de tecnologia: envia-
    ram experts nas técnicas de tortura, con-
    forme depoimento insuspeito e digno de
    muitos oficiais brasileiros que se recu-
    saram a compactuar com os torturado-
    res. Na Terra Brasilis, a camarilha do vi-
    ra-latismo preparou seu arsenal golpis-
    ta, amontoando os argumentos de sem-
    pre para brecar o avanço dos movimen-
    tos reformistas e progressistas. Ontem
    como hoje, sacam da algibeira o nheco-
    -nheco do “perigo comunista”."

    LEIA ARTIGO DE LUIS GONZAGA BELUZZO 

     

    O dia 31 de março precisa ser lembrado para não ser repetido

     

     

    Uma longa fileira multicolorida de botas militares vistas de perfil, como centopeia, cada uma ligada na seguinte, serpenteiam até preencher o espaço destinado à ilustração. Da bota que inicia a fila, como se fossem elétricas, um fio e a sua tomada fora do plugue. Por cima do fio e da tomada um enorme X desenhado em vermelho, serve para confirmar que, em hipóteses alguma pode ser ligado na tomada.
     

    Wilson Gomes

    A última ditadura a que a República brasileira foi submetida completa 60 anos no domingo. Não foi a primeira na nossa breve história republicana de baixas convicções democráticas. Meu pai, nascido em 1922, viveu sua primeira ditadura aos 15 anos, e a segunda, aos 42. Trinta anos, de 73, transcorridos sem democracia.

    Eu nasci às vésperas da segunda ditadura do século passado. Nem havia completado um ano quando a democracia morreu da última vez no Brasil, esmagada pelas botas de generais, brigadeiros, almirantes e suas tropas. Até os 21, eu não tinha vivido um único dia neste país sob governo civil, Estado de Direito, eleições livres, direitos políticos amplamente reconhecidos, essas coisas que a gente dá por garantidas como luz do sol e oxigênio.

    Além disso, constatei com assombro na semana passada que faltou muito pouco para que a efeméride do início da ditadura de 1964 fosse comemorada com uma ditadura novinha em folha. Em vez de liturgicamente repetir o nosso "ódio e nojo à ditadura", segundo a fórmula lapidar de Ulysses Guimarães, estivemos bem perto de estar celebrando uma "nova revolução" para defender o Brasil do "comunismo" nesse "país que vai pra frente, de uma gente amiga e tão contente", como aprendi na doutrinação ideológica do regime militar desde a alfabetização.

    Não estou descrevendo tragicamente a história de uma república em que o regime democrático aparece e desaparece a cada duas, três gerações. Na tragédia, por definição, o destino arrasta inexoravelmente os eventos, ignorando rogos e prantos e o esforço de evitar o desfecho previsto. No drama brasileiro, em vez disso, a deliberação vai em sentido contrário às virtudes republicanas. Há sempre gente tramando, urdindo, projetando e tentando pôr em marcha algum projeto autoritário para tomar o poder sem ganhar eleições, para transformar a "res publica" em coisa particular, para governar sem desafiantes nem prestação de contas um povo sem direitos ou garantias, a não ser os que o governante lhe quiser conceder.

    Na população civil, sempre houve a reserva de vocações autoritárias, mas é nas instituições militares que o DNA autocrático está não só preservado como é ritualisticamente cultuado e doutrinariamente transmitido. O Brasil teve mais golpes e intentonas de golpes do que guerras, movimentos de tropas inimigas nas fronteiras ou tentativas de invasão do território. O inimigo é principalmente interno e atende pelo nome de democracia.

    Por isso, a cada celebração pelo fim de ditaduras ou a cada suspiro de alívio porque uma intentona de golpe de Estado falhou, convém lembrar que "o bacilo da peste", na linguagem de Camus, o vírus da brutalidade autocrática, não morre nem desaparece. É apenas debelado provisoriamente. Permanece latente por décadas até que "chegue o dia em que, para desgraça e aprendizado dos homens, a peste desperte seus ratos e os envie para morrer em uma cidade feliz".

    Erra o governo ao tratar como um dia comum o 31 de março, o dia do último golpe de Estado bem-sucedido neste país em que a democracia parece frágil, provisória e incompleta. Ainda mais quando a população acabou de saber que o seu último presidente, o círculo íntimo dele e uma parte da elite militar arquitetaram e tramaram um golpe que, por fortuna, não se completou. Falhou, mas não por falta de tentativa.

    Deixar passar em branco os 60 anos do golpe de Estado que tão duramente marcou a vida do país não faz sentido. Nem que fosse um ritual, com velas acesas, uma vigília, um lamento, 60 segundos de silêncio, uma leitura da lista dos mortos e desaparecidos, uma poesia, um painel, um memorial, qualquer coisa.

    É importante lembrar ao país que não temos o direito de esquecer, muito menos de repetir. Se há os que preservam o bacilo da peste autoritária e os que cultuam botas e baionetas acima da República, também os democratas precisam de uma liturgia em que se celebre um regime de direitos e liberdades, também os republicanos carecem de um reforço nos anticorpos que combatem a autocracia no sistema imunológico das instituições do país.

    Esta nação merece um futuro em que governos civis não tenham que se preocupar se as Forças obedecem a uma constituição democrática, tramam mais um golpe, reconhecem ou não que servem à República e ao poder civil. A relação precisa é ser republicana, não concessiva. E será harmoniosa não porque silenciamos sobre ditaduras, mas quando os militares alinharem sua bússola ao regime democrático sob o qual escolhemos viver.

    FOLHA   

      ilustração: Ariel Severino

     

     

     

     

    terça-feira, abril 02, 2024

     


    Leonard Cohen - Famous Blue Raincoat



    On the last time we saw you, you looked so much older
    Your famous blue raincoat was torn at the shoulder
    You'd been to the station to meet every train
    And you came home without Lili Marlene

    And you treated my woman to a flake of your life
    And when she came back she was nobody's wife

    Pelo menos uma tornozeleira



    AROEIRA

     

    Começa o processo de cassação de Moro


    ARNALDO BRANCO

     

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    Creche e segredo familiar: descobri tortura de meu pai na ditadura

     


     

    "“Escutam-se gritos de pavor, durante 24 horas por dia, choros de homens e mulheres. Vi velhos de 70 anos serem brutalmente espancados. Pais e filhos, esposas e esposos e irmãos serem torturados uns na frente dos outros, serem obrigados a torturarem-se uns aos outros. Alguns comparam aquele órgão ao inferno. Eu diria que essa palavra não consegue exprimir todo o horror que sentem aqueles que tiveram a infelicidade de entrar como prisioneiros naquela casa”.
     
    leia relato de Ludmila Pizarro

    Creche e segredo familiar: descobri tortura de meu pai na ditadura

    Cartola ( Disfarça e Chora )



    Chora, disfarça e chora
    Aproveita a voz do lamento
    Que já vem a aurora
    A pessoa que tanto querias
    Antes mesmo de raiar o dia
    Deixou o ensaio por outra
    Oh! Triste senhora

    1º DE ABRIL DE 1964

     

    Escrever o artigo relembrando o clima pré-golpe em Governador Valadares, onde eu morava, garoto com dez anos - link aqui- revolveu memórias que me levam a também escrever a minha versão de “onde estavas no dia 1º de abril de 1964”. 

     

    O clima era bastante tenso na minha casa. Meus pais sabiam que os militares estavam planejando um golpe (essa história vou contar em outro texto). E meu pai na corda bamba pela qual se equilibrou grande parte de sua vida: malvisto pela direita por seus trabalhos sociais com favelados, prostitutas e camponeses; malvisto pela esquerda julgando que fosse um gringo infiltrado. 

     

    No momento, o temor em casa pendia mais para a reação da direita. A Igreja Metodista de Valadares, que meu pai liderava, tinha - além da forte atuação social que irritava os latifundiários – um grupo de jovens conscientizados e militantes, apesar da casta de velhos fundamentalistas. Ali funcionava um grupo de estudos que mais tarde evoluiria para uma célula, numa estranha mistura de religião e marxismo (e que foi dizimada quando a tal reação veio mesmo a partir de 68. Da minha turma quase todos foram presos, alguns torturados, outros tiveram que sair – a história dessa geração).

     

    Mas então minhas lembranças. Como narrei no artigo anterior, as forças oligárquicas do Rio Doce não esperaram a senha do golpe e detonaram sua própria revolução no dia 30 de março. No primeiro de abril eu estava há dois dias trancado em casa. O pau quebrando na rua. Com as tropas descendo de Minas o exército de Magalhães Pinto subitamente trocou de lado e juntou-se às milícias & jagunços no emocionante afã de patrulhar ruas, caçar subversivos e saquear estabelecimentos.

     

    Ao final daquela tarde chegou a notícia de que o Exército tinha fechado o ambulatório que a igreja administrava na favela da Bela Vista. O boato é que tinham depredado o lugar. Meu pai foi lá saber. Me ofereci pra ir junto, não por companhia ou heroísmo, mas porque tinha um namorinho de criança com uma menina favelada de lá e estava preocupado em saber como ela estava. Tentei agora mas não me lembro do nome dessa menina. Lembro do seu rosto e de suas mãos, e que era triste. Muito triste.

     

    Chegando no pé do morro tinha uma barreira militar e pararam o nosso carro. Eu nunca tinha visto soldados uniformizados tão de perto (a não ser em museus americanos). Mandaram a gente descer do carro e um oficial se aproximou. Me lembro de ter achado ele tão novinho pra se portar com tanta autoridade. E me lembro bem das palavras que ele disse, porque as achei ridículas. Assim: “Em nome da Revolução e do Governo Militar estamos confiscando o seu veículo para o serviço da Pátria”. Soldados entraram na nossa Rural azul creme e branca e levaram ela embora.

     

    Ficamos ali, meu pai e eu, numa rua vazia, ao lado de uma barricada. Ele perguntou se iam dar algum documento pela tomada do carro, ou como iriam devolver, e os soldados riram. Começamos a andar a pé para casa. Quando achamos um armazém meu pai pediu para telefonar e ligou para alguem vir nos buscar. Nisso já estava de noite. 

     

    Uns dois dias depois tivemos notícias da Rural Willys. Estava sendo usada pelo Exército como camburão (não sei se esta palavra existia na época) para recolher suspeitos. Acontece que o carro tinha nas portas os brasões da Igreja Metodista. Meus pais ficaram preocupadíssimos do povo achar que a Metodista tinha aderido à Revolução e prestava serviços aos milicos.

     

    Ele foi então se encontrar com o poderoso Coronel Altino, a quem conhecia, e explicou que não ficava bem um carro de uma associação religiosa estar sendo usado pelo Exército, ainda mais naquela função, que precisava do carro para transportar mantimentos, etc e tal. O Coronel disse que nada poderia fazer, pois – meu pai contava que ele disse – “vivemos tempos excepcionais”. Mas no dia seguinte um grupo de soldados estacionou o carro em frente à nossa casa de número 1456 acompanhado de um pedido de desculpas.

     

    Eu adorava essa Rural. Foi nela que minha família fez uma expedição do interior da Mata Atlântica, no Espírito Santo, até Brasília só pra conhecer a cidade quando foi inaugurada. Gostava de viajar aninhado na parte de tras, entre as malas, ouvindo o ronco do motor e as conversas dos pais. Viagens curtas, para as fazendas próximas de Jerusalém e Galiléia, viagens longas indo passar férias na praia. Quando entrei na parte de trás novamente eu vi as manchas de sangue.

     

    Tentaram lavar, mesmo assim apareciam. O golpe de 1964 pra mim foi isso. Durante o tempo em que tivemos esse carro, nunca mais saiu dali o sangue.



    Ricky Goodwin


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