De MARINGONI
A DEFESA DE DILMA É QUASE INFANTIL
A poucos dias do
"julgamento" do processo de impeachment pelo Senado Federal, vale a pena
examinar a linha de defesa que a presidenta Dilma Rousseff tem
externado em discursos e entrevistas.
Ela se baseia em duas ordens de raciocínio:
1. "Sou honesta" e
2. "Tenho 54,5 milhões de votos".
São argumentos pueris. Parece que a mandatária - e boa parte de seus
correligionários - acreditam, de forma ingênua, estar diante de um
julgamento de verdade.
Se fosse um julgamento, jamais poderia ser
realizado pelo poder Legislativo. Teria de ser levado ao Judiciário,
com promotoria e defesa embasados em sólida argumentação legal.
DESPREPARO
Dilma está diante de um sentenciamento político e não compreender isso é mais um sinal de seu despreparo para a vida pública.
(Dê-se o desconto que a chefe do Executivo está sendo jogada às feras
por seu próprio partido. Incapaz de divergir publicamente quando ela
tinha a caneta de nomeações, o PT agora a deixa na mão ao não se
movimentar claramente contra o golpe e ao externar uma deliberação
contrária a uma proposta sua, a do plebiscito. Por pior que seja a
sugestão, a hora agora seria a de lhe dar apoio irrestrito e não a de
fazer marola).
O despreparo de Dilma não está apenas na crença do
julgamento "técnico" , mas principalmente em não ver que os motivos de
sua defenestração não estão no terreno da moral.
Estão no fato de ter feito um governo de direita.
Aqui a ironia. Getulio e Jango - de formas distintas - foram expulsos
da cadeira presidencial por esboçarem e tentarem desenvolver políticas
progressistas.
Dilma cai por fazer uma politica de direita num momento em que a direita não precisa mais de intermediários.
BASE SOCIAL
O grande diferencial de Lula e da reação brasileira era sua base
social. Até porque, entre 2003 e 2005, o ex-metalúrgico aplicou um
rígido ajuste fiscal, capitaneado por Antonio Pallocci e Henrique
Meirelles.
A base social e seu diálogo com forças democráticas
permitiu que a ortodoxia fosse aplicada sem grandes contratempos, a
começar pela reforma da Previdência.
A coisa mudou no superciclo
das commodities, entre 2005 e 2012, quando o excedente externo
possibilitou o conhecido jogo do ganha-ganha, que todos conhecem.
Ao enganar seus eleitores com o estelionato eleitoral de 2014, Dilma
pensou estar sendo esperta. Não estava e ali atraiu contra si as forças
golpistas.
PERCEPÇÂO
Muitos líderes de esquerda falam - com
razão - que a população ainda não percebeu a existência de um golpe.
Falta um detalhe: não percebeu porque a vida piorou tanto sob Dilma II,
que ninguém nota muita diferença com os três meses sob Temer.
A
ilusão perdurará até as medidas regressivas serem aprovadas e seu efeito
deletério sobre o mercado de trabalho se fazer sentir. Isso acontecerá
só depois das eleições, ou seja, daqui a alguns séculos, na conta dos
golpístas.
Dilma prega no vazio, seja pelo discurso sem bússola,
seja pelo diferencial entre as duas gestões. A alta da inflação, os 11
milhões de desempregados, a recessão planejada e o desarranjo econômico
geral são obras suas. Temer irá aprofundá-las, mas isso não se sente nas
ruas ainda.
Por fim, não adianta falar em 54 milhões de votos. É
certo que os golpistas não têm votos e nem seu programa passaria pelas
urnas, como também argumenta Dilma.
Falta ela lembrar que as iniciativas de seu segundo mandato tampouco lhe renderiam a vitória.
Por vontade própria, ela incinerou essa montanha de sufrágios na pira do financismo galopante que chamou para si.
Não foi um erro. Foi uma opção racional.
O que vem pela frente é muito pior do que o governo Dilma jamais foi.
Fazer o balanço de como chegamos até aqui é essencial para enfrentar essa brutalidade e essa ilegitimidade política.