Não sei quem estava mais perdido, os personagens de Lost às 21 hora ou os candidatos presidenciais às 22 horas...
A morneza do debate refletiu a pobreza dessa campanha presidencial, com candidatos pífios ou se passando por parvos diante da realidade.
A primeira parte, então - candidato pergunta para candidato - foi muito chata. Os candidatos aproveitavam as perguntas aos outros para levantarem sua própria bola e replicarem em auto-promoção. Ninguem tocou nos problemas que realmente interessam. Apenas HH se lembrou do tema do momento, a segurança, ao questionar Alkmin com aquele raciocínio de: se ele se preocupa tanto com a segurança, por que nao fez nada a respeito quando era governador.
Entrando os jornalistas em cena, temas mais interessantes entraram em pauta, pena que os debatedores mantiveram seus próprios compassos estreitos e não soltaram a voz.
Os dois figurantes - Eymael & Bivar - deveriam ter seguido a regra dourada dos figurantes: não ter falar, e não olhar para a câmera.
Bivar inclusive citou o dado mais maluco da noite quando disse que os agricultores americanos tinham passado a produzir 110% dos produtos... quer dizer, a totalidade dos cem por cento e mais um pouco...
Alkmin desmereceu a alcunha de picolé de chuchu. Nunca chupei um, mas certamente tem mais sabor e interesse do que o Geraldo falando.
O tucano, talvez para se mostrar ágil e enfático, disse que vai agir em primeiro lugar a favot da Saúde. Depois disse o mesmo com relação à Segurança. Depois, o mesmo com relação aos Empregos, E ainda disse que vai priorizar a Educação. Quantos primeiros lugares existem na matemática tucana? E mais, em cada um desses assuntos, disse que em janeiro já estará enviando ao Congresso... Sim, o presidente toma posse em janeiro, numa época em que os congressistas estão longe de Brasília e pensando menos ainda em trabalhar...
Os outros dois candidatos tinham algo a dizer. Tem objetivos além de serem presidentes ou, sendo isto impossível, pelo menos aparecer na TV. O problema é a monotemática. Cristovam quer promover a Educação (um excelente objetivo, aliás, e nisto está indo bem). Assume que só quer falar nisso, mas para um debate fica chato. Heloísa quer acabar com os banqueiros. Só bate neles e nessa tecla. Embora ela tenha razão quanto à origem dos problemas atuais brasileiros estarem na subserviência ao mercado e à economia, parece que eliminando os donos de bancos tudo se resolve.
A maneira professoral de Buarque também é irritante, escandindo aquelas sílabas. E HH... peo menos transmitiu alguma emoção ao debate: o suspense de a qualquer momento aquela onça se inflamar e se desembestar a disparar encadeamentos de palavras de ordens clichês. Bem, ela conseguiu se controlar e ao final ainda jogou a cartada da candidata-mãe-e-mulher.
CB e HH tem pontos interessantes em suas plataformas é muito utópico, descolado da realidade, não sei se as pessoas ainda querem sonhar sem saber de onde vem a verba para isso. Quer dizer, HH diz de onde virá sua verba: da redução dos juros. Como se deixariam o PSOL fazer isto.
A ausência do personagem central, Lula, claro, esvaziou a noite.
A melhor tirada de todas, aliás, foi do Ey-ey-eymael, mais ou menos assim:
Todos estão comentando aqui, mas para mim não é surpresa que o Lula teha vindo. Ele não sabia do mensalão, ele não sabia da corrupção, ele não sabia das falcatruas. Vá ver ele nem sabe que tem um debate aqui hoje.
O melhor - ou menos ruim 0 do programa foi justamente quando acabou.
Não por ter acabado (alívio?) mas numa espécie de coda repórteres entrevistaram as pessoas, após o encerramento, para dizerem o que tinham achado e se foram bem ou mal. Mais relaxados, os candidatos nesses segundos permitiram que foram vistas de maneira que não foram durante todo o (inutil) debate.
Boechat foi bem como mediador. Poderiam ter bolado outra maneira de realizar o sorteio para a ordem das falas. Os objetos retangulares dentro de um vidro redondo não funcionaram, não embaralharam e atrapalhavam na hora de serem retiradas. E os nomes ainda tinham que ser tirados dentro de um envelope a ser rasgado, perdendo-se tempo.
Mas a Bandeirantes está de parabéns por ter promovido o debate, mantendo a tradição de 25 anos realizando estes programas, desde uma época em que a Globo se recusava a dar voz a candidatos e ignorava a política (principalmente quando de oposição).
SON SALVADOR(Belo Horizonte, MG)