9h30: Viaduto do Méier. Passa um carro de cada vez. Pela lógica, é a vez do meu, mas o colega do veículo ao lado acelera e força a passagem pra ganhar seus supostamente valiosos três metros de dianteira
15h30: Cosme Velho. Dois carros da polícia descem a ladeira. Cruzo com eles e estaciono logo depois de onde param. Enquanto desço do carro, ouço um estrondo do lado oposto. Algo foi lançado do alto do morro sobre carros que estavam estacionados ali. Alguém olha pra cima e grita: "Para com isso, pelo amor de Deus. A polícia já foi embora". Mas a polícia está lá, logo depois da curva, e quatro policiais apontam fuzis na direção de quem lançou o objeto. Na linha de tiro, entre as pontas, eu
19h30: Humaitá. Entro no táxi. Quando o veículo vai sair, um ônibus o fecha para parar no ponto. "Caramba, não tinha a menor necessidade disso", diz o motorista. Concordo, para instantes depois entender o que o taxista considerava necessário: ele fecha o ônibus de volta, abre o vidro e ergue o dedo médio para o motorista. Os dois profissionais, em horário de trabalho, carregando passageiros, iniciam um pega. O ônibus sai da sua pista exclusiva (e obrigatória) do BRS, vai pra pista da esquerda e fecha novamente o táxi, mas desta vez arrastando-lhe a lateral e arrancando-lhe o retrovisor. O taxista para na frente do ônibus para tomar satisfação com o motorista. Desço, saio andando dali para procurar outro táxi e ouço de longe a troca de xingamentos
19h45: Botafogo. O carro da polícia à frente do táxi onde estou vai bem devagar, parando de um e de outro lado da calçada, como se estivesse procurando algo ou alguém. O taxista diz: "Eles estão catando o bicheiro que fica nessa rua, pra pegar o deles. O cara vazou".
21h: Flamengo. No mercado de classe média, a senhora passa pelos vinhos e reclama dos preços altos: "Santa Helena a R$ 39... graças à santa Dilma"
Nada extraordinário. Nada grave perto da enorme quantidade de dor e violência e injustiça encravada na cidade. Tudo de uma banalidade quase tediosa. Assustador que seja assim