de RENATO MAURÍCIO PRADO
Muito se falou da bagunça em Weggis, na Copa de 2006,
na Alemanha, mas pouco se tem comentado a respeito do que aconteceu na
Copa da Rússia, com os autênticos “bondes” de parentes e amigos dos
jogadores sempre gravitando em torno do hotel da seleção, muitas vezes
até com acesso aos treinos fechados, como se pode atestar graças a uma
indiscreta postagem de um vídeo feito por um “parça” de Gabriel Jesus,
que ajudou até a tirar dúvidas a respeito da escalação que viria a ser
usada por Tite.
A comissão técnica, conivente, nunca se mostrou
incomodada com tal promiscuidade e a alegação oficial era de que os
jogadores só tinham contato com as famílias e os amigos nos dias de
folga. As fotos dos jogadores com os filhos, em pleno gramado de treino
desmentem categoricamente tal afirmativa. É sabido também que Neymar
pai, sempre ele, durante o Mundial, transferiu-se para o próprio hotel
onde estavam hospedados os jogadores, provavelmente para dar “apoio” ao
filho, tão “injustamente” criticado.
O paternalismo exacerbado foi a marca do trabalho de
Tite e Edu Gaspar nesta Copa. Da exagerada intervenção do treinador, no
dia em que Neymar foi perguntado sobre as críticas que lhe foram feitas
por Osório, à desastrosa entrevista coletiva do coordenador, dizendo-se
penalizado com o “sofrimento” do craque maior do elenco.
Preocupado em não contrariar o grupo e “ganhar o
vestiário”, o técnico, na verdade, se tornou refém dos caprichos e
vontades dos jogadores. Soa exagerado dizer que foi por causa disso que o
Brasil perdeu a Copa. Mas, certamente, esse clima de permissividade e
falta de foco não ajudou nem um pouco. Se Tite continuar, precisará
rever muitos dos seus conceitos. A começar por esse. Copa do Mundo não é
ocasião para fazer turismo com parentes e amigos.