De VITOR MACHETTI
Nós tínhamos um governo que havia feito uma
aliança com atores econômicos importantes, principalmente do mercado de
capitais, com o apoio de grandes empresas.
Mas essas empresas se viram atingidas [pelas investigações] mesmo com a
aliança que fizeram com o grupo político que assumiu o poder após o
golpe parlamentar.
Essa ruptura acontece agora porque os custos
dessa aliança estavam altos demais e não estavam sendo suficientes para
“estancar a sangria”, como se previa naquele momento inicial, para
lembrar a frase do [senador] Romero Jucá.
A aliança das empresas com o poder político foi incapaz de cumprir a promessa de estancar a sangria da Lava Jato.
Não à toa, essa operação organizada entre a Polícia Federal, o
Ministério Público e a JBS se deu logo depois da Operação Carne Fraca.
Parece que, para o setor produtivo, a aliança agora deve ser feita em outro espaço, com as esferas judiciais e policiais.
Isso muda a configuração de poder no País.
Não é qualquer coisa o dono da JBS grampear o presidente da República.
Nós estamos falando do dono de uma empresa multinacional que estava
vendo seus negócios serem afetados.
O sistema político não foi capaz de estancar a sangria pelo nível de fragmentação que a Lava Jato tomou.
A operação ganhou tal dimensão que fez com que eles perdessem a homogeneidade e o controle das operações.
Grupos de policiais federais e promotores começaram a disputar espaço
dentro da operação, que passa a ser menos controlada para objetivos
políticos e vira um universo de incerteza gigantesco.
O setor
produtivo, especificamente a JBS, não queria pagar esse nível de
incerteza, principalmente quando a questão começou a avançar para o
BNDES e a possibilidade de multas bilionárias.
A partir daí, a aliança com o universo político é completamente desfeita, para ser feita em outro nível, com o Judiciário.