de João Luis Jr
Claro que a gente sabe que o problema não acabou. Vencer Bolsonaro não significa necessariamente o fim do bolsonarismo, a extrema-direita não vai automaticamente desaparecer da face da Terra, é bem improvável que algum dia a Jovem Pan volte a ser apenas uma rádio que toca Eurodance e vende revista com CD encartado.
Mas isso não muda o fato de que, depois de quatro anos do governo mais canalha, nocivo e retrógrado que o país já teve, nós ganhamos a eleição.
Claro que os caras não tão levando na boa, óbvio que eles vão tentar deslegitimar o resultado das urnas falando que teve irregularidade – e não importa que qualquer irregularidade nessa eleição tenha sido causada exatamente por eles. Com certeza vai ter fake news no Whatsapp sobre todas as urnas terem sido fabricadas pelos médicos cubanos gays e abortistas da Globo, certamente vai ter galerinha com “luto” no Instagram por mais uma semana e não tem palavra mágica dita pelo William Bonner que vá subitamente tornar razoável o seu tio que tem gato de luz, compra CNH, mas considera que corrupto é o Lula.
Mas isso não afeta o fato de Bolsonaro, mesmo com a máquina do estado, mesmo apelando de todas as maneiras possíveis, mesmo realizando a versão política de uma partida de futebol em que um clube suborna o juiz, fura a bola e tranca alguns dos melhores jogadores adversários no vestiário, não conseguiu ganhar.
Porque sim, ainda tem muito trabalho pela frente, ainda tem muita coisa pra resolver, muita louça suja na pia da democracia, muita mancha de ketchup na regata das premissas básicas da civilidade. Lula é um político e não um gênio que atende pedidos, a vitória de domingo não é uma linha de chegada, mas sim um primeiro passo.
Mas que passo gostoso, né, meu irmão? Assim, puta que pariu, como foi bom. Como a gente precisava da catarse de sentir que, depois de quatro anos perdendo, a gente voltou a ganhar uma. Como a gente precisava acreditar que esse país pode voltar a andar na direção certa. Como é boa a sensação de saber que, por mais apertada que tenha sido a margem, entre a morte e a vida, a maior parte do Brasil escolheu a vida.
Porque ela, a vida, é feita de luta, mas também é feita de esperança. Não do otimismo good vibes de quem acha que “vamos sair melhores disso tudo”, porque não apenas vimos e vivemos coisas terríveis nestes últimos quatro anos como muita gente não sobreviveu ao que foi feito neles, na soma entre negligência e violência que esse governo ofereceu. Mas a esperança de quem sabe que esse país pode ser mais, de quem tem certeza que a gente pode ser mais. E é exatamente por isso, porque a gente não perdeu a esperança e porque tanta gente se esforçou tanto pra que ela existisse mesmo nos piores momentos, que a gente merece respirar fundo e comemorar.
Então, por favor, tire alguns momentos pra isso. Pra lembrar que, num dos raros casos em que dá pra ser maniqueísta hoje em dia, o bem venceu o mal, os mocinhos ganharam do bandido, os bons foram mesmo a maioria. Porque sim, a gente vai ter trabalho pra caralho aí pra frente, tem tanta coisa pra resolver que é complicado até saber por onde começar e obviamente vai ter arrombado a cada esquina tentando sabotar. Mas a gente deu um grande passo. E isso merece comemoração.
CONFORME SOLICITADO