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    segunda-feira, novembro 07, 2022

    Fome de pacificacao

    de JOSIAS  de SOUZA

    Há uma fome de pacificação no ar. O desejo de saciar esse apetite nacional por sobriedade levou os mais otimistas a enxergarem o reconhecimento da derrota numa fala de dois minutos arrancada de Bolsonaro a fórceps com um atraso de quase 48 horas. Otimismo é uma coisa. Opção pelo engano é coisa bem diferente. Bolsonaro voltou a se manifestar no Dia de Finados. Nas duas manifestações, não reconheceu a vitória de Lula. Em ambas estimulou seus devotos golpistas a manter acesas as fogueiras que ardem nas ruas desde a noite de domingo.

    Como as urnas desmoralizaram o Datapovo, Bolsonaro ativou o Datagolpe. Desistiu de administrar a República para presidir o caos que havia planejado para o caso de derrota. Isolado politicamente, já não sonha com o golpe. Sua prioridade é retardar a volta à normalidade para alcançar uma nova prioridade. Deseja assegurar a sua impunidade, para evitar que a inelegibilidade o retire do baralho de 2026. Quer matar os processos judiciais, para se manter vivo até a próxima sucessão.

    Bolsonaro requenta um velho truque. O mesmo truque que acionou sempre que quis encurralar as instituições nos quatro anos de mandato: transfere a raiva dos seus seguidores das redes sociais para as ruas. No momento, simula serenidade ao pedir com atraso que os bolsonaristas arruaceiros desobstruam as estradas. Simultaneamente, avaliza o golpismo gritado defronte dos prédios do Exército.

    Bolsonaro insufla a militância ao declarar que a revolta dos seus devotos contra as urnas é justificável. Menciona uma hipotética injustiça praticada na eleição. Com isso, manter acesas as manifestações. A disputa eleitoral foi realmente desequilibrada. Mas os abusos penderam para o lado de Bolsonaro. Incluíram do estouro das arcas à conversão da máquina federal em engrenagem eleitoral.

    O bolsonarista que grita "eu autorizo" defronte dos quarteis representa uma ínfima parte dos 58 milhões de eleitores que votaram em Bolsonaro. O capitão sabe que seu golpismo é minoritário. Mas opera para prolongar a presença do ódio nas ruas para convencer as instituições de que se tornou um líder estridente demais para ser desligado da tomada pela via judicial. Considerando-se o histórico do Brasil, não são negligenciáveis as chances de que a impunidade prevaleça. 

    UOL

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