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    domingo, setembro 16, 2007

    Em Cartaz, Cultura de Rua

    Revista de Domingo do Globo traz materia hoje sobre a guerrilha interessante do coletivo cdr (Cultura de Rua), rapaziada legal.


    Eles se autodenominam o Exército da Cruz Vermelha da Cultura Brasileira. E, de certa forma, são mesmo.

    Fazem o que podem, com parcos recursos, para divulgar a obra de pessoas que ajudaram a fincar as raízes culturais do país.

    São voluntários que dedicam o tempo livre e o conhecimento em artes plásticas para instigar a curiosidade de quem passa pelas ruas do Rio com cartazes feitos artesanalmente que trazem os rostos, nem sempre prontamente reconhecíveis, de quem fez História. Um trabalho de formiguinha, feito por apenas três soldados, que formam o coletivo Cultura de Rua [CDR].

    Há um ano, os designers Eduardo Danne, de 34 anos, Carlo Filardi, de 32, e o historiador Thiago Florêncio, de 30, decidiram homenagear personalidades em 12 categorias: artes plásticas, ciência, cinema, comportamento, cultura popular, esporte, literatura, música, rádio, religião, teatro e TV.

    Numa etapa inicial, montaram cartazes com as faces de dois representantes de cada uma delas e os espalharam por bairros como Lapa, Laranjeiras e Botafogo, sempre em série e sempre em áreas com grande concentração de pedestres.

    Entre os homenageados, nomes conhecidos como Carmen Miranda, Garrincha, Grande Otelo e Chacrinha têm o papel de chamar a atenção para outros nem tão populares, mas não menos importantes, como a psiquiatra Nise da Silveira e Arthur Bispo do Rosário. O grupo parte agora para sua segunda leva de homenagens. A idéia é que as personalidades sejam renovadas a cada seis meses.

    — Queremos despertar a curiosidade de quem passa pelas ruas a partir das imagens dos cartazes e incentivar a pesquisa pela obra dessas pessoas — explica Eduardo. — Se a gente conseguir chamar a atenção de uma pessoa só, já valeu.

    Mas eles querem mais, é claro. O processo de pesquisa para a nova leva de trabalhos está em andamento e as sugestões podem ser enviadas pelo site . Alguns nomes cotados são os da nadadora Maria Lenke, para a categoria esporte, e de Cartola, para música. Um dos cuidados do grupo é não tratar as pessoas escolhidas como celebridades.

    O que está em jogo é a obra e não a vida privada de cada um. Por isso, segundo eles, não há espaço para políticos, nem para heróis nacionais que não precisam de qualquer empurrão para cair na boca do povo.

    Um primeiro olhar poderia pôr os meninos em posição de simples emporcalhadores da cidade. Mas não é bem assim. Sempre no tamanho de uma folha de papel A3 — eles não são feitos para concorrer com os outdoors ou os lambe-lambes publicitários — os cartazes são colados em tapumes de obras e em lugares previamente autorizados, para não haver confusão com os proprietários dos muros ou com a Prefeitura.

    Uma arte simples, sem nariz em pé, ao acesso de todos. Ou, como eles chamam, uma intervenção urbana.

    Além disso, o grupo opta por usar uma cola leve, feita com maisena, que é removida com facilidade.

    Quem gostar muito pode destacar e até levar um cartaz para casa.

    — Criar o projeto foi a forma que encontramos de reclamar do esquecimento — defendese Eduardo.

    O trabalho do coletivo começou a ser feito na varanda da casa dele.

    Hoje, os três dividem um espaço na Lapa com outros designers que, e ve nt u al m en te , ajudam na produção ou com a doação de recursos. Todo e qualquer material que cai nas mãos deles é transformado em cartaz, até mesmo papel de pipa e tinta de parede. No final das contas, acabam usando diferentes técnicas de pintura, como grafite. O que poderia ser encarado como uma dificuldade acabou se transformando em vantagem para o projeto.

    — Mesmo feitos em série (eles usam uma técnica parecida com o silk screen), cada cartaz é único. A gente pode colar 500 cartazes de uma vez só e nenhum será igual ao outro — diz Carlo.

    texto Marcella Sobral
    fotos Michel Filho

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