Pena que essa dicussão sobre a politica cultural do novo Governo Lula tenha rolado enquanto o blog0news estava destivado
são questões que me interessam
inclusive por ser eu mesmo um "produtor cultural".
E vivenciador da produção artística há 35 anos.
Fui também um dos fundadores e integrei por seis anos o Instituto Nacional de Artes Gráficas, na Funarte, onde o debate sobre atuação cultural estatal era constante.
Na recente polêmica, surgida a partir da chiadeira de Cacá Diegues e outros sobre o dirigismo político-ideológico das diretrizes governamentais para o setor,
ambos os lados tem suas razoes
e nenhuma colocou-se de forma correta.
É claro que a cultura não pode ter regras,
O ato de criar não pode ser pautado por parâmetros preocupados em atender a tais e tais necessidades sociais.
Mas o ato de investir o dinheiro público, claro, precisa ter regras.
E na hora de colocar o dinheiro do povo em projetos culturais deve-se realmente priorizar os que maior retorno ou oportunidades de acesso dariam ao povo de maneira geral.
(Sem excluir os demais - mas se a grana não dá pra tudo - se é preciso escolher - quais poderiam ou deveriam ser os critérios dessa escolha?)
O texto da Eletrobrás foi muito infeliz ao explicitar a "contrapartida social" amarrando-a a detalhes como "falar da Fome Zero, por exemplo". Mas isso me parece mais ser um caso de querer puxar o saco do governo, agradar aos chefões, do que implantar política cultural dirigida.
Houve também exageros ao se querer linkar obras de arte ao enaltecimento da imagem nacional ou ao favorecimento do folclore tradicional, coisas com ranço da ditadura brasileira ou outros regimes fascistas-popularescos.
E - o mais incompreensível - por que essas diretrizes ficaram com a Secretaria de Comunicação ao invés do Ministério da Cultura?
(quer dizer, incompreensível em teoria
na prática provém da desconfiança do PT acadêmico ao ministro Gil).
Mas está certo o "governo", ao dispor de um dinheiro social - no sentido de ser da sociedade - pedir que haja "contrapartida social".
Cacá afirma que "fazer arte já é em si uma contrapartida social".
Não é.
Qualquer criação é um evento cultural - tudo é cultura -
mas não é necessariamento um ato social.
Isso ignora que exista uma arte comercial
com propósitos explícitos e unicamente comerciais
e mercadológicos.
A grande questão deste imbroglio todo me parece ser:
quem vai definir o que é uma coisa ou outra?
A necessidade de regras e priorizações existe
e devem ser claras e as mais justas possíveis
mas - quem irá aplicá-las? E interpretá-las?
O histórico da política cultural governamental (em diversos governos) tem sido o disto ficar nas mãos (e cabeças) de burocratas ao invés de criadores.