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  • O BRASIL EH O QUE ME ENVENENA MAS EH O QUE ME CURA (LUIZ ANTONIO SIMAS)

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    Fragmentos de textos e imagens catadas nesta tela, capturadas desta web, varridas de jornais, revistas, livros, sons, filtradas pelos olhos e ouvidos e escorrendo pelos dedos para serem derramadas sobre as teclas... e viverem eterna e instanta neamente num logradouro digital. Desagua douro de pensa mentos.


    quarta-feira, outubro 26, 2022

    Jogo de cena da morte

     Guilherme Coelho

    Numa sala no 6º andar de um prédio na rua do Russel, no bairro da Glória, no Rio de Janeiro, Eduardo Coutinho assistia a fitas VHS com gravações de depoimentos de Roberto Jefferson na CPI do Mensalão.
    Interessado na retórica, na desfaçatez, no histrionismo e na combinação de camisa e gravata roxas do então deputado federal, Coutinho imaginou uma atriz fazendo o papel de Jefferson, repetindo as suas falas. Talvez Fernanda Montenegro. Talvez vestindo um terno roxo. Ali nasceu o documentário "Jogo de Cena", de 2007, marco do cinema brasileiro.

    No domingo (23) assistimos à mesma teatralidade e despudor de 2005, só que agora em versão armada. Numa série de vídeos, Jefferson narra serenamente a abordagem da Polícia Federal a sua casa, a troca de tiros com os policiais, sem se esquecer de acrescentar suas tenebrosas razões para a cena de faroeste. Tudo isso usando óculos de desenho animado.

    É valioso analisar dois destes vídeos. Um antes da troca de tiros, o outro depois. Em ambos, apenas ouvimos Jefferson; em ambos, respiração e emissão de voz são idênticas. Ausentes estão o embaraço e a adrenalina. Sintoma de sociopatia? Não espantará se Jefferson pedir para ser considerado inimputável.

    De tropa de choque de Fernando Collor à franja radical da extrema direita, o percurso de Jefferson é espantoso e sintomático, pois descreve, com o exagero típico das óperas, a trajetória menos bufante percorrida por parte não insignificante do país. Não falta sequer o elemento cristão. Jefferson agora se apoia em Jesus de Nazaré para justificar a sua delinquência e tentativa de homicídio. Deixo para os historiadores e profissionais da alma decidir por onde passa a linha —se é que passa— que separa fanatismo mequetrefe de oportunismo calculista. De certeza mesmo, apenas o fato de que estes vídeos agora são parte da história brasileira.

    Isso daria (e provavelmente dará) um filme.

    Mas prefiro pensar o Brasil como pensou Beth Carvalho, tal qual revelado no ótimo filme "Andança", de Pedro Bronz, com produção de Roberto Berliner. Recentemente lançado no Festival do Rio e agora na Mostra de São Paulo, objeto de acolhida consagradora, o filme é um abraço que se dá no Brasil (em vez de um tiro). Um Brasil que é mais "Paloma" —o doce e preciso filme de Marcelo Gomes, grande vencedor do Festival do Rio de 2022, também presente na mostra.

    Um Brasil não apenas mais alegre, mas também mais criativo. É o que queremos. Um cinema que questione velhas representações, que radicalize as suas formas e, assim, que seja capaz de lançar a luz necessária para nos ajudar a sair desse buraco.

    "Sejamos otimistas, deixemos o pessimismo para tempos melhores." Essa frase, das mais lindas pichadas nos muros de Paris em maio de 1968, foi recentemente lembrada por João Salles, amigo e produtor de Coutinho. Nos serve bem.

    FOLHA

     

     

     

     

     

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