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  • O BRASIL EH O QUE ME ENVENENA MAS EH O QUE ME CURA (LUIZ ANTONIO SIMAS)

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    Fragmentos de textos e imagens catadas nesta tela, capturadas desta web, varridas de jornais, revistas, livros, sons, filtradas pelos olhos e ouvidos e escorrendo pelos dedos para serem derramadas sobre as teclas... e viverem eterna e instanta neamente num logradouro digital. Desagua douro de pensa mentos.


    quarta-feira, dezembro 10, 2008

    Deu no Jornal do Commercio




    OS REIS DO RISO


    Entrevista de Ricky Goodwin, curador do evento,
    para Naira Sales, do Caderno Artes






    1) Como foi feita a curadoria do Festival?


    Começamos pelo núcleo principal, o das exposições de desenhos. Inicialmente, foi organizado um concurso, que é uma maneira interessante de se organizar uma exposição coletiva, aberta a um maior número de artistas, independente das escolhas da curadoria. Para diferenciar de um concurso de desenho já existente no Rio, o Salão Carioca - cujo objetivo é o de revelar novos talentos - criamos o Prêmio Desenho de Imprensa, voltado para os grandes profissionais e para desenhos já publicados na imprensa em 2007/2008. Outro enfoque diferente do Premio Imprensa foi o de privilegiar a ilustração - categoria não contemplada nos demais salões brasileiros - onde o aspecto gráfico tem mais relevância do que o humorístico.

    Para marcar o lançamento deste novo concurso, convidamos para o evento uma exposição com todas as obras que já foram premiadas nas edições do World Press Cartoon, o maior evento de desenho de imprensa do mundo, com sede em Portugal.

    Com estas duas exposições (todos os premiados do WPC e os 60 finalistas do PDI) o FIHR apresenta um painel interessante dos principais acontecimentos brasileiros e mundiais dos últimos 12 meses.


    A escolha dos artistas homenageados pelo evento nasceu de uma brincadeira. A fim de reforçar o caráter internacional do Festival - a exposição do WPC traz alguns dos melhores desenhistas do mundo - pensamos em homenagear os artistas de São Paulo, uma cidade que, vista do Rio, parece tão diferente que é como se fosse outro país. E representando o desenho paulista, escolhemos Angeli e Laerte, pelo fato de ambos estarem celebrando 35 anos de carreira, além de serem os principais desenhistas paulistas de sua geração.


    Em seguida, incluimos também uma exposição de Luis Fernando Veríssimo, nascida da seguinte reflexão: o públkico conhece bastante o Veríssimo como cronista, escritor, autor de peças de teatro, de programas de TV, mas poucos conhecem o seu lado desenhista. Pois Veríssimo também desenha há décadas personagens como As Cobrs e Família Brasil.

    Além destas cinco exposições, há a programação paralela com filmes, peças e espetáculos musicais ligados ao humor, tendo como atrações principais outro concurso, o Festival de Esquetes, e a Semana Humor do Futuro, com alguns dos melhores comediantes da nova geração.




    2) Como você definiria os trabalhos que vão estar no Festival?

    Nas exposições dos artistas homenageados, procuramos mostrar um pouco de cada fase de suas longas e produtivas carreiras. Assim, tem desenhos de vários tipos: cartuns, charges, quadrinhos, ilustrações, coisas mais artísticas, coisas mais engraçadas, desde personagens infantis a charges políticos. São exposições que vão agradar a vários tipos de pessoas.

    Nas mostras de Angeli e Laerte, procurei também um lado bastante didático, mostrando o processo de criação dos artistas, incluindo nas paredes e em vitrines, muitos esboços, rascunhos, as várias fases de certos desenhos até saírem publicados. E ao mesmo tempo que há um farto material sobre seus personagens mais famosos, há muita coisa atual ou mesmo inédita, que nunca foi publicada. Então as pessoas que cresceram lendo a revista Chiclete com Banana, por exemplo, farão uma visita nostálgica aos Correios, re-encontrando seus personagens preferidos; mas ao mesmo tempo vão se surpreender com as artes ousadas - tanto nos temas quanto no traço - que Angeli e Laerte estão produzindo agora.



    3) Comente um pouco suas dificuldades na preparação do I Festival Internacional de Humor do Rio de Janeiro?

    A maior dificuldade foi justamente a de contar, nos espaços do Centro Cultural Correios, a história da carreira tanto de Laerte quanto de Angeli. Cada um deles desenha profissionalmente há 35 anos e de forma prolífica. E usando linguagens e formatos bastante diversos. Quando começamos a pesquisa com o Angeli fizemos uma contabilidade e calculamos que, somente entre o seu acervo pessoal, há 27 mil desenhos! Os do Laerte chegam a quase esse tanto!

    Como condensar isto em exposições? Como criar uma narrativa que tenha um sentido, ou cronológico ou temático? Este foi o grande desafio. As exposições desses dois apresentam, ao todo, 540 dos seus mais representativos desenhos.

    Para contar isto de maneira interessasnte a cenografia fez uso de vários suportes diferentes. Não é uma exposição apenas de desenhos nas paredes. Há varais, cabos, ampliações gigantes, salas de leitura, brincadeiras com espelhos e outros materiais. Por exemplo: para criar um ambiente propício às pessoas curtirem seus desenhos com piadas sexuais a cenografia criou uma área circular simulando quartinho de motel, com cama redonda, espelho no teto e mais.




    4) Qual a proposta do Festival?

    A proposta principal é divulgar a produção dos artistas que trabalham com humor.

    Há propostas secundárias, como promover um encontro entre esses artistas na semana de abertura do evento, e durante a semana Humor do Futuro. Outra proposta interessante é a de fazer com que o público carioca tenha mais contato com maneiras diversas de se fazer humor, num momento em que a cidade - cujos habitantes são conhecidos internacionalmente pelo seu bom humor - passa por essas transformações de metrópole desvairada e violenta.

    E uma proposta muito importante é a de estimular outras pessoas a desenvolverem seu lado artístico e humorístico.



    5) O que tá sendo mais legal neste trabalho?

    Pessoalmente, a possibilidade de trabalhar com aquilo que é minha paixão, o humor gráfico, e a oportunidade de criar as exposições com artistas que conheço há mais de tres décadas, e que - no caso de Laerte e Angeli - são amigos próximos a mim. Coordeno também há 23 anos um projeto que distribui material de artistas brasileiros para publicação em jornais e revistas, e assim lido diariamente com desenhos desses dois.



    6) Como se desenvolve o processo criativo na hora de fazer a curadoria?

    No caso das exposições dos homenageados, tive essa vantagem de conhecer não só os artistas como a sua obra profundamente. Mesmo assim me surpreendi com coisas geniais que guardavam no fundo de gavetas, ou que não tinha visto antes.

    O processo envolve muita pesquisa, ver muita coisa, ler muita coisa,descobrir onde estão as obras, fazer levantamentos. Depois vem uma fase da maturação, em que as idéias, os blocos possíveis, as sequencias das obras, ficam girando na cabeça até decantarem de maneiras lógicas e interessantes. Finalmente, a fase de execução, planejar os mapas das paredes, trocar idéias com a cenografia e sair ordenando e montando obras em seus lugares.

    As exposições resultantes de concursos tem uma dinâmica diferente. Há a fase de divulgação do regulamento e de inscrição dos artistas. Depois vem as sucessivas fases de seleção, até chegar no Juri Final, que escolhe os premiados e os finalistas que serão expostos. Finalmente, há que se planejar, entre esses 60 finalistas, a forma mais apropriada de mostrar isso ao público, formando conjuntos que fazem sentido. Essas exposições baseadas em concursos foram coordenadas por Ana Pinta, minha parceira na PACATATU,




    7) Quanto tempo até tudo ficar pronto?

    O tempo foi o fator mais alucinante do projeto. O Festival vem sendo pensado há um ano. Pelas dificuldades em se fazer eventos de tal porte no Brasil - principalmente a captação de recursos - só pudemos começar a trabalhar efetivamente em junho. Tivemos que fazer em quatro meses o que normalmente demandaria 12 meses de execução!



    8) Que critérios você adotou para fazer a curadoria do Festival?

    Escolher as obras mais representativas na carreira de cada artista, traçando um equilíbrio entre as mais importantes historicamente, as mais belas graficamente, aquelas que o público gostaria mais de ver e as preferidas dos autores.


    A sequencia tem que formar uma história, com um roteiro, qo ue ajuda a determinar quais as obras escolhidas.

    E, como eu disse, procuro sempre incluir uma parte didática, mostrando os esboços e como o artista produz a sua obra, e uma parte de bastidores, com papéis que normalmente ele jogaria fora, ou cadernos com desenhos feitos durante viagens, etc.


    São exposições com muita volume de informação, mostras para serem lidas além de serem vistas, e que podem ser visitadas várias vezes, sempre com prazer e novidades.



    9) Qual o foco principal do Festival?

    São tantas coisas acontecendo que fica dificil evidenciar algum ítem da programação. O foco seria talvez o todo. A quantidade junto com a qualidade. A oportunidade do público apreender, em um único evento, um panorama diversificado da produção humorística contemporâneo no Brasil e em outros países.




    As ilustrações são de (pela ordem)
    Angeli e Laerte - selos
    Túlio Carapiá - ilustração em HQ
    FC Lopes - ilustração
    Carlus - ilustração
    Laerte - duas tiras
    Angeli - duas charges
    Bruno Drummond - tres tiras


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