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  • O BRASIL EH O QUE ME ENVENENA MAS EH O QUE ME CURA (LUIZ ANTONIO SIMAS)

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    Fragmentos de textos e imagens catadas nesta tela, capturadas desta web, varridas de jornais, revistas, livros, sons, filtradas pelos olhos e ouvidos e escorrendo pelos dedos para serem derramadas sobre as teclas... e viverem eterna e instanta neamente num logradouro digital. Desagua douro de pensa mentos.


    domingo, setembro 23, 2007

    Palavras: festival do rio na lona

    Estudando a programação do Festival do Rio, reparei que foram programados para as lonas culturais (Anchieta, Bangu, Campo Grande, Guadalupe, Maré, Realengo, Santa Cruz e Vista Alegre), os seguintes filmes: "A grande família", "Antônia" e "Uma noite no museu".
    A que se deve isso? Por que a grande festa da diversidade cinematográfica, que contempla os mais diversos recortes, na hora de voltar os olhos pro chamado "povão", oferece o de sempre, o trivial simples? Por que servem, requentados, enlatados da Globo e de Hollywood?
    Chego a me perguntar se isso seria preconceito com as pessoas ou preconceito com os filmes do festival.

    Meu esquerdismo juvenil, que caninamente me persegue, por mais que eu o chute e não mais o alimente, fica latindo num canto do escritório: - É consciente ou inconsciente? É consciente ou inconsciente? – Que foi, cão?! Pergunto irritado. – Quem programa esses filmes nas lonas tem razões objetivas ou apenas reproduz, apesar das boas intenções, uma visão estigmatizada sobre as camadas mais pobres da população? – Não vou responder. – Au au! Insiste ele. – Olha, cão, essa sua pergunta não leva ninguém a lugar nenhum. Se eu conhecesse alguém do PSTU, eu te dava de presente. – Caim caim!

    O material sobre a programação das lonas, disponibilizado pelo festival à imprensa internacional (está apenas em inglês), diz o seguinte: Os filmes foram escolhidos por sua popularidade e apelo para todas as gerações... Esperamos que essas exibições, como parte do trabalho que é desenvolvido ao longo do ano nas lonas culturais, sejam mais um passo no sentido de estimular o gosto do público dessas áreas suburbanas pelo engajamento cultural.
    Tento elaborar um raciocínio mais complexo que o do meu cachorro. Vem à minha mente a exigência de black tie para a noite de abertura do festival. Que tremenda carga simbólica! A alta roda toda engalanada para assistir, que ironia, “Tropa de elite”. Depois foram comentar (ou não) sobre o filme e sobre a brutal realidade que ele retrata fartando-se numa festa financiada pela renúncia fiscal. Lembro, então, que a exigência do black tie é uma das coisas mais descaradamente desrespeitadas que já vi.
    Começo a rir

    - Gustavo Acioli
    "Apartheid Cultural"

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