BAGDEAD
I
A invasao do iraque degenerou num melê total
os invasores chegaram lah
no coracao da mesopotamia
mas deixando pelas artérias um rastro de sangue
e destruicao de vidas instantâneas e monumentos seculares..
Agora é o festival da vitoria
a orgia de saques e badernas
a suruba de feridos gemendo nas camas
a lei draconiana substituida pelo dragao imperial que tudo devora com sua lingua de fogo
um ser alado que se alimenta de petroleo
e cospe bombas de fragmentacao pela boca.
Os estilhacos estao por ai. Quem vai cata-los? Quem vai desativar as minas de miseria e ressentimento enterradas nas mentes com choque e estupor?
O Iraque está liberado. Saddam Hussein foi destituido.
O Rio Tigre será prostituído. O Eufrates, drenado.
O Oriente Médio, danado.
E o dominio americano constituído.
II
Bagdá é uma cidade cortada por dois braços de água
Ali é um menino sem dois braços, cortados sem mágoa
Quente foi o incendio que deixou sua pele enegrecida.
Negra a fumaça da cortina vã onde vaza o clarão das bombas.
Escuro. Apagaram a chama que chamou iraquianos para a luta.
As cinzas fervilham no deserto.
Quando o vento da revolta voltar a sobrar por ali
as dunas dançarão o saracoteio islâmico.
Areia movediça.
Terreno pantanoso.
No motor cromado da pax americana – areia.
No brejo, a vaca sagrada da democracia à força.
O bezerro de ouro na praça central para todos adorarem.
Mas mamãe
os bebes desnutridos
os adolescentes embargados
os sobreviventes embaçados
não querem ouro
eles querem mamar.
III
O sol (da liberdade) estava quente e queimou a nossa cara.
Raios fúlgidos de urânio sujo.
Mas que calor.
Calôôô-ôôôr.
IV
Turcos, selvagens, hordas, britanicos, ditadores, mongóis, americanos.
Eles vem e vão.
O deserto espera.
Mesopotamia quantos povos acamparam por entre-rios?
O berço
da civilização
balança
balança
balança mas não cai.