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  • O BRASIL EH O QUE ME ENVENENA MAS EH O QUE ME CURA (LUIZ ANTONIO SIMAS)


  • quinta-feira, abril 17, 2003


    BAGDEAD

    I

    A invasao do iraque degenerou num melê total
    os invasores chegaram lah
    no coracao da mesopotamia
    mas deixando pelas artérias um rastro de sangue
    e destruicao de vidas instantâneas e monumentos seculares..

    Agora é o festival da vitoria
    a orgia de saques e badernas
    a suruba de feridos gemendo nas camas
    a lei draconiana substituida pelo dragao imperial que tudo devora com sua lingua de fogo
    um ser alado que se alimenta de petroleo
    e cospe bombas de fragmentacao pela boca.

    Os estilhacos estao por ai. Quem vai cata-los? Quem vai desativar as minas de miseria e ressentimento enterradas nas mentes com choque e estupor?

    O Iraque está liberado. Saddam Hussein foi destituido.
    O Rio Tigre será prostituído. O Eufrates, drenado.

    O Oriente Médio, danado.
    E o dominio americano constituído.

    II

    Bagdá é uma cidade cortada por dois braços de água
    Ali é um menino sem dois braços, cortados sem mágoa
    Quente foi o incendio que deixou sua pele enegrecida.
    Negra a fumaça da cortina vã onde vaza o clarão das bombas.

    Escuro. Apagaram a chama que chamou iraquianos para a luta.
    As cinzas fervilham no deserto.

    Quando o vento da revolta voltar a sobrar por ali
    as dunas dançarão o saracoteio islâmico.

    Areia movediça.
    Terreno pantanoso.
    No motor cromado da pax americana – areia.
    No brejo, a vaca sagrada da democracia à força.
    O bezerro de ouro na praça central para todos adorarem.
    Mas mamãe
    os bebes desnutridos
    os adolescentes embargados
    os sobreviventes embaçados
    não querem ouro
    eles querem mamar.


    III

    O sol (da liberdade) estava quente e queimou a nossa cara.
    Raios fúlgidos de urânio sujo.

    Mas que calor.
    Calôôô-ôôôr.


    IV

    Turcos, selvagens, hordas, britanicos, ditadores, mongóis, americanos.
    Eles vem e vão.
    O deserto espera.
    Mesopotamia quantos povos acamparam por entre-rios?

    O berço
    da civilização
    balança
    balança
    balança mas não cai.

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