Justiça ignora caso grave que pode tirar Tarcísio da eleição
LEONARDO SAKAMOTO
Ao rejeitar a ação que pede punição a Tarcísio de Freitas (Republicanos) por ter afirmado, sem apresentar provas, no dia do segundo turno do ano passado, que o PCC havia orientado voto em Guilherme Boulos (PSOL), a Justiça Eleitoral de São Paulo ignora um caso grave que poderia levar à inelegibilidade do governador. A avaliação foi feita à coluna por Fernando Neisser, professor de Direito Eleitoral da FGV-SP e um dos fundadores da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político.
Para o jurista, “com as urnas abertas na metade do dia de votação, é muito grave que isso tenha sido divulgado pelo governador, pois a informação fluiu ao longo do dia inteiro”. Em sua avaliação, é “gravidade apta a levar a inelegibilidade”.
“Discordo respeitosamente da decisão. A Justiça Eleitoral na primeira instância não compreendeu o fato de que Tarcísio de Freitas, na condição de governador de São Paulo e falando com a autoridade de quem teria recebido informações da inteligência da Secretaria de Assuntos Penitenciários, veiculou a informação da suposta existência de uma orientação de voto do crime organizado em Boulos, o que beneficiaria, o seu candidato, o prefeito Ricardo Nunes”, afirma Neisser.
“Quando ele diz que houve informações da inteligência e ele é o governador do Estado, a compreensão mais óbvia é de que recebeu essas informações, não de que ele ficou sabendo dessas informações por uma suposta matéria jornalística de um site jornalístico e que ele estaria ali só repercutindo”, explica.
Ele se refere a um texto do site Metrópoles sobre o assunto, publicado antes da eleição. “Tarcísio falou com a autoridade de governador, não como comentador de notícia de terceiros”, diz o professor da FGV.
As declarações de Tarcísio de Freitas foram ao encontro da estratégia da campanha de Ricardo Nunes ao longo do segundo turno, de afirmar que o deputado é o candidato dos presidiários e não iria atacar o crime organizado.