Nunes consuma casamento com Bolsonaro
LEONARDO SAKAMOTO
Ricardo Nunes (MDB) deu uma cadeirada discursiva no Zé Gotinha e abraçou o pior do bolsonarismo-raiz ao afirmar que é contra a obrigatoriedade da vacina. Entende-se que, em nome do voto, candidatos comam salgado em boteco duvidoso, beijem filhote de cachorro de rua e deem bom dia para cavalo, mas abraçar uma posição que coloca crianças em risco é abrir o alçapão no fundo do poço.
“Tenho muita tranquilidade, depois de toda experiência, e tenho humildade para te falar que hoje sou contra a questão da obrigatoriedade”, disse o prefeito ao podcast do bolsonarista Paulo Figueiredo, sobre a pandemia de covid-19. Depois, em outra entrevista, afirmou que, hoje, não teria feito o passaporte da vacina.
Por “hoje”, leia-se, em uma campanha eleitoral em que ele precisa tirar votos bolsonaristas que estão com Pablo Marçal (PRTB). O prefeito tem 40% desse grupo, o influenciador conta com 41%, segundo o Datafolha.
Questionado por Guilherme Boulos (PSOL) sobre essas declarações no debate do SBT, nesta sexta (20), Nunes reclamou que o deputado federal estava levando a discussão para a “baixaria”, tratou apenas do passaporte vacinal sem falar do arrependimento sobre a obrigatoriedade e ainda disse que ele tornou São Paulo a capital mundial da vacina. O que é irônico, pois a Forbes só se referiu à cidade dessa forma na pandemia devido ao sucesso de ações como a obrigatoriedade e o passaporte.
O Brasil já foi um caso exemplar de vacinação para o mundo, mas vem apresentando queda na taxa de imunização, o que disparou o alerta no Sistema Único de Saúde. Muito por conta da viralização do discurso negacionista. O prefeito não nega a importância das vacinas, mas é contra a sua obrigatoriedade, o que dá quase no mesmo. Por trás do discurso de “liberdade absoluta” que excita o bolsonarismo, está o risco à vida. Pôr em risco a vida dos paulistanos vale uma eleição?