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    domingo, junho 16, 2024

    Patricia Highsmith e os quadrinhos

     

    de Mario Bagg

    :: Do livro "A TALENTOSA HIGHSMITH", de Joan Schenkar, 2009 ::

     
    : Em 1939, revistas de quadrinhos lotavam as prateleiras de todas as lojas de doces, bancas de jornal e farmácias nos Estados Unidos. Envoltas em embalagem plástica e grampeadas em dois lugares, as revistas raramente variavam o custo ou o formato: dez centavos era o preço de capa, e o formato era de 64 páginas, de 20 cm × 25 cm — exatamente o tamanho para caber no meio de um livro de escola. O papel rústico usado na impressão dessas revistas era tão cru (os romances “pulp” eram impressos no mesmo papel e tiraram seu nome daí [wood-pulp = polpa de madeira]) que os leitores quase podiam contar as lascas de madeira e sentir o cheiro de óleo de serraria. (...)

    A maioria dos jovens artistas e roteiristas de quadrinhos estava impregnada da cultura popular: revistas de detetive, de ficção científica, de fantasia e horror e revistas de crimes violentos, como a Black Mask. E muitos dos contos publicados em revistas que eles liam foram influenciados pela admiração dos autores pelos mesmos escritores que tinham iluminado a juventude de Pat: Fiódor Dostoiévski, Friedrich Nietzsche, Søren Kierkegaard, Edgar Allan Poe, Franz Kafka etc. A diluição da alta cultura lentamente escorria pela rica e inculta mistura que eram os quadrinhos americanos nos anos 1940, ajudando a moldar suas histórias e sua arte, ainda que com crueza e num nível simplório. (Pat certa vez descreveu seu trabalho com os quadrinhos como se fosse o equivalente a “escrever dois filmes ‘B’ por dia”).

    Dostoiévski e Kafka, Nietzsche e Poe, Rider Haggard e H. G. Wells, ficção com crimes pesados, ficção científica, romance pulp, cinema expressionista alemão — qualquer coisa vividamente à deriva no Zeitgeist era sugada e usada pelo mundo em quatro cores e seis quadros das revistas em quadrinhos.(...)

    Will Eisner achava que o “Golem tinha sido o precursor do super-herói” porque os judeus “precisavam de alguém que os protegesse... contra uma força quase invencível. Então [Siegel e Shuster] criaram um herói invencível”.

    O cartunista Jules Feiffer, evocando o passado de Siegel e Shuster como emigrantes da Europa Oriental, ofereceu uma variação mais sagaz para o comentário de Eisner: “Não foi de Krypton que o Super-Homem veio de verdade, foi do planeta Minsk”.

    Quando Pat deu ao seu “herói-criminoso” Tom Ripley uma vida sedutora e sem pais, um alter ego rico e socialmente bem situado (Dickie Greenleaf) e um modo de ação livre de culpa, ela estava repetindo apenas o que seus colegas estavam fazendo com seus super-heróis: permitindo a seu personagem fictício urdir situações refinadas de que ela própria só podia se aproximar no mundo dos seus desejos.(...)

    A inspiração que fez um assassino sem consciência como Tom Ripley em 1955 se tornar um “herói”, e os alter egos de um arquiteto brilhante e o pérfido psicopata descendente de um ricaço em "Pacto Sinistro" em 1950, era uma das marcas distintivas da imaginação de Pat. Mas essa imaginação não tinha sido somente ativada por Dostoiévski e Poe, Proust, James e André Gide; ela também tinha durante sete longos anos mergulhado nos coloridos quadrinhos americanos.

    O universo das edições de qualidade era a longamente esperada oportunidade para Pat abandonar os quadrinhos. Ela teria ficado surpresa se soubesse que os super-heróis cujas aventuras colocava no papel — Whizzer, Pyroman, Tocha Humana, Destroyer, Captain Midnight, Black Terror, Flying Yank, Spy Smasher, Ghost, Champion — procuravam suas próprias escapatórias similares enquanto mudavam de roupa ou interpelavam seus alter egos para fugir de suas confinadas condições de vida. Mais tarde, ela ofereceria a mesma escapatória à maioria de seus psicopatas fictícios, trancados nas celas sem saída de suas obsessões.

    Nos anos 1940, como disse Stan Lee, os quadrinhos “eram o fundo do poço cultural... Ninguém respeitava um camarada que escrevia para essas revistas”. Muitos ilustradores e roteiristas de quadrinhos dessa época não falavam sobre seu trabalho, e Pat não era exceção. Seu desejo por silêncio a esse respeito era tão grande que ela não guardou nenhuma cópia dos trabalhos que fez. ::

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