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    domingo, abril 14, 2024

    Um 3X4 do Ziraldo

     

    SERGO AUGUSTO

    Quando conheci Ziraldo, ele, Vilma e Daniela (uma menina de 4 anos!) ainda moravam na Praça do Lido, em Copacabana. Acabamos vizinhos na Lagoa Rodrigo de Freitas, por mais de duas décadas. Da minha janela avistava a de seu ateliê, quase sempre acesa até altas horas.

    Além do bairro, da rua, compartilhamos projetos, três ou quatro redações, folguedos (réveillon al mare na Baía de Angra, torneios de piscibol) e até um sobrenome, Pinto, embora isento de parentesco. Segundo Ziraldo, ao contrário do que sempre supus, não éramos cristãos novos; o nosso Pinto seria, como o Pinter do Harold, uma corruptela de Painter, pintor em inglês.

    Nosso primeiro aperto de mão aconteceu em março de 1963. Ziraldo acabara de trocar a função de relações-públicas de O Cruzeiro pela direção de arte da revista, a convite de Odylo Costa, filho, a quem fora confiada uma reforma em regra no então decadente semanário.

    Ziraldo, de cara, mudou o logotipo e transformou o miolo da revista num misto de Look e Paris-Match. Sem o mofo antigo e com uma redação renovada pela inclusão de Carlos Heitor Cony, Wilson Figueiredo e Carlos Leonam, entre outros, o novo e arejado O Cruzeiro foi uma experiência estimulante, até soçobrar, sete, oito meses depois, quando o então potentado do império Chateaubriand, Leão Gondim, enciumado, maquinou a saída de Odylo.

    Um dia contarei como nasceram as Fotopotocas (as memes impressas daquele tempo), que Ziraldo e eu lançamos em duas páginas da revista e, mais tarde, em brochura. Com a saída de Odylo, Ziraldo assumiu a chefia da redação. Conseguiu editar apenas um número.

    Bateu de frente com Accioly Neto, capataz vitalício da empresa, por causa do veto a uma reportagem. “Já reparou que o senhor sobrevive a todas as crises d’O Cruzeiro?”, jogou-lhe nas fuças Ziraldo. “Meu filho”, reagiu Accioly, “jornalismo é uma indústria de papel pintado. Deixe de tolos idealismos. Faça alguma coisa pra ganhar dinheiro; o resto é besteira.”

    Ziraldo saiu da sala aos prantos. E, sem abrir mão de seu idealismo, foi acumular fama, glória e um bom dinheiro com suas besteiras.

    ESTADÃO

     

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