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    quarta-feira, março 27, 2024

    Rio preso entre policia que mata e policia que encobre

     

     


     LEONARDO SAKAMOTO 

     
    A revelação de que o então chefe de polícia Rivaldo Barbosa foi o avalista para que matadores de aluguel executassem a vereadora Marielle Franco a serviço da milícia mostra como o Rio de Janeiro está emparedado entre uma polícia que mata e outra que acoberta seus crimes. Quem é negro, pobre e favelado tem maiores chances de perecer entre as duas.

    O Estado tem registrado um aumento no número de chacinas em comunidades pobres pelas mãos de agentes de segurança nas gestões Wilson Witzel e Claudio Castro, como aquelas ocorridas no Salgueiro, na Vila Cruzeiro, no Jacarezinho. Esta última, aliás, é exemplo de como o processo de passar pano também ocorre à luz do dia.

    Ao mesmo tempo, as milícias (mutação teratológica da polícia) conquista territórios, principalmente na zona oeste da capital fluminense, fazendo acordos com o narcotráfico, controlando a expansão imobiliária com a regularização de ocupações ilegais (motivo que estaria na gênese da morte de Marielle), ganhando dinheiro com as transações comerciais das comunidades, direcionando os votos dos moradores para eleger as necessidades do crime.

    A investigação que levou à prisão de Domingos e Chiquinho Brazão e do próprio Rivaldo mostra o ex-chefe da área de Homicídios e posteriormente de toda Polícia Civil como um homem do crime dentro na cúpula da gestão estadual. Sua função e a de sua equipe: atrapalhar o curso de investigações, protegendo o jogo do bicho, as milícias e qualquer um que pagasse por isso. Como viver em uma sociedade em que a Polícia Militar mata e a civil acoberta, ou quando a Polícia Civil mata e a Militar acoberta ou quando a milícia mata e as duas acobertam?

    A delação de Ronnie Lessa vai muito além de resolver a morte da Marielle Franco e Anderson Gomes, abre a possibilidade de refundar instituições do Estado do Rio de Janeiro diante da percepção de podridão do sistema. Mas o sistema não para por conta própria, precisa ser parado. Resta saber se a sociedade e o Estado brasileiro têm força para isso ou também já estão emparedados entre a morte e a impunidade.

    UOL

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