Foliões da tragédia
"As pessoas atingidas relatam, ainda,
um comprometimento da saúde mental.
Obrigada a fechar seu estúdio de pilates
devido ao desastre, a fisioterapeuta An-
dréa Alpoim foi diagnosticada com de-
pressão e transtorno de ansiedade gene-
ralizada. Nem a casa que morava nem o
estúdio, ambos no bairro Pinheiros, fo-
ram indenizados pela Braskem, sob o ar-
gumento de que não faziam parte da área
de risco. “A grande maioria dos meus pa-
cientes morava na região que foi inserida
no mapa e todos saíram do bairro com o
passar do tempo. Fiquei sem clientes da
noite para o dia e comecei a acumular dí-
vidas. Não tive outra alternativa a não ser
fechar as portas, vender o maquinário,
tentar pagar o máximo de dívida”, diz a
fisioterapeuta, acrescentando que seu
pai também adoeceu em decorrência da
tragédia, teve um Acidente Vascular Ce-
rebral que deixou várias sequelas.
A especulação imobiliária também
atormenta as vítimas da Braskem. Além
de ter perdido suas casas, as pessoas fo-
ram levadas a procurar bairros menos
valorizados, porque as somas que rece-
beram nas indenizações não são sufi-
cientes para comprar um imóvel com-
patível com o que tinham. Muitos tive-
rem de partir para o aluguel e, mesmo as-
sim, caíram de padrão. “Antes, você pa-
gava num apartamento de 110 metros em
torno de 2 mil reais de aluguel. Hoje, não
é menos de 3,5 mil”, afirma Alpoim. “A
Braskem nunca pagou a indenização jus-
ta aos moradores. Ela usou de expertise
com as tratativas, aproveitando do mo-
mento de pânico da população. A maio-
ria, 90% dos afetados, retroagiu, indo pa-
ra bairros menos valorizados”, completa
Jackson Douglas, morador do bairro de
Bebedouro, evacuado às pressas."
leia reportagem de FABIOLA MENDONÇA