Fragmentos de textos e imagens catadas nesta tela, capturadas desta web, varridas de jornais, revistas, livros, sons, filtradas pelos olhos e ouvidos e escorrendo pelos dedos para serem derramadas sobre as teclas... e viverem eterna e instanta neamente num logradouro digital.
Desagua douro de pensa mentos.
quinta-feira, fevereiro 29, 2024
Acervo pessoal de Elton Medeiros com possíveis músicas inéditas vai parar no lixo
Parte do acervo pessoal de Elton Medeiros (1930-2019)
foi parar no lixo. Depois de descoberto, o material foi encaminhado
para o Instituto Moreira Salles, na Glória, onde está sendo analisado e
devidamente cuidado. Mas foi por pouco que parte da história de um dos
maiores compositores do samba não desapareceu.
No início de janeiro, o síndico do prédio onde Elton morava, em
Copacabana, encontrou o material na lixeira comum do edifício. Quando
identificou que eram itens pessoais do músico, tratou de buscar ajuda.
Ligou para o amigo cantor e compositor Chico Alves, sambista tal qual o
falecido vizinho. Alves se prontificou a ir até o local para entender do
que se tratava.
— Quando ele me falou o que era, avisei pra não joga fora de jeito
nenhum. Fui de carro até lá — lembra Chico Alves. — Tem um valor
histórico.
Além de compositor, Elton Medeiros foi produtor musical e radialista. É
frequentemente citado como um dos maiores melodistas da história do
samba. É dele clássicos do gênero como "O sol nascerá" e "Onde a dor não
tem razão", feitas em parceria com Cartola e Paulinho da Viola,
respectivamente.
Entre os objetos descartados no prédio, estavam manuscritos, letras de
músicas, muitas fotos, roteiros de shows, rascunhos, um óculos, fitas
VHS e K7, e até uma escrivaninha. Chico Alves ouviu algumas gravações e
acredita que possivelmente há músicas inéditas nos registros.
— Em uma das fitas, ele aparece cantando com Candeia. Uma música que
seguramente nunca foi gravada — diz Alves. — Há gravações de músicas que
ele recebia de Cartola, Candeia, Monarco, Nelson Cavaquinho, Paulinho
da Viola.... muitas coisas inéditas, com certeza.
Tristeza sem fim'
Elton Medeiros foi casado por décadas com a museóloga Neusa Fernandes,
com quem morou neste mesmo apartamento de Copacabana até a data de sua
morte. O casal não teve filhos. Não se sabe ao certo quem descartou o
material do sambista. Chico Alves diz que não tentou entrar em contato
com a família do músico, mas lamenta o destino escolhido para os objetos
pessoais de Elton.
— É uma coisa muito comovente. Até o óculos jogaram fora, é de uma
tristeza sem fim saber que a própria família relega ao esquecimento um
acervo dessa importância. Não quis entrar em contato, sei que não são
pessoas do meio. Eu entendi que o meu papel não é saber as motivações
deles. Mas é uma coisa recorrente, essa falta de entendimento do quanto a
pessoa que está ali, que é seu parente, representa para a cultura do
país. Igual ao Elton, tiveram vários. A gente sabe que é recorrente. Meu
papel era pegar aquilo e dar um destino melhor.
Repercussão e destino
Na última segunda-feira (26), Chico Alves relatou a história em seu
perfil no Instagram. "O retrato de um país sem memória", escreveu o
músico em post que trazia uma das fotos do acervo encontrado. O relato
repercutiu rapidamente. "Que lástima ver isso, Chico. Ainda bem que você
salvou. Elton Medeiros colaborou com a cultura brasileira. Um dos
maiores melodistas do mundo", escreveu a cantora Áurea Martins nos
comentários. O cantor Marcos Sacramento classificou o achado como "um
verdadeiro tesouro".
Chico Alves buscou, então, uma instituição que topasse abrigar aquele
material. Ouviu algumas negativas até que foi acolhido pelo Instituto
Moreira Salles. Ao GLOBO, em nota enviada através de sua assessoria de
imprensa, o IMS afirmou que está analisando o conteúdo encontrado.
"Ao saber do material referente ao compositor Elton Medeiros
(1930-2019) encontrado pelo músico Chico Alves, a equipe de música do
IMS entrou em contato com ele e o orientou a levar os itens à sede
administrativa do IMS, no bairro da Glória. O objetivo é buscar
identificar o que consta no material, sua origem e seu estado de
preservação. O IMS neste momento atua para colaborar no processo de
mapeamento e para garantir que o material fique em segurança", diz o
comunicado.
Em documento divulgado pelo músico nas redes sociais, o IMS afirma que
"este acervo, depois de cumprir a necessária quarentena, será
inventariado pelo instituto para futura avaliação sobre as condições de
incorporação."