Lamaçal sem-fim
"Tão preocupante quanto os danos am-
bientais é o impacto social que o desas-
tre de Mariana tem causado na vida das
pessoas. Assim como Alexandre Ribeiro,
milhares de outros pescadores, pequenos
agricultores e comerciantes percorrem
uma verdadeira via-crúcis para ser reco-
nhecidos pela Fundação Renova, respon-
sável pela reparação às vítimas. Muitos,
até hoje, não tiveram direito a indenização
ou auxílio financeiro pelos prejuízos sofri-
dos. “Essa tragédia impacta todo um sis-
tema por afetar a biota, matar o rio e cau-
sar, para as populações mais vulneráveis,
uma série de transtornos no modo de vi-
da. E o mais sério é que foi feito um termo
de ajuste de conduta com toda uma buro-
cracia que dificulta a reparação dos atin-
gidos. Se você não estiver naquela margem
definida pelo termo, que é bem estreita,
não é reconhecido. Os pequenos agricul-
tores, que não estão bem do lado do Rio
Doce, não são reconhecidos, mas eles ti-
veram muitos prejuízos. Foram impedi-
dos, por exemplo, de fazer irrigação por-
que a água estava contaminada. Perderam
colheitas, sofreram danos”, ressalta a pes-
quisadora Marta Zorzal, professora do De-
partamento de Ciências Sociais da Ufes.
Juliana Stein Nicoli, coordenadora es-
tadual do Movimento dos Atingidos por
Barragem no Espírito Santo, acrescen-
ta que a maioria dos atingidos nem se-
quer conseguiu se cadastrar para plei-
tear indenização. “Dos cadastrados, me-
nos da metade obteve alguma reparação
e, entre os que conseguiram, grande par-
te ganhou valores muito aquém do que
deveria ter recebido”, explica. Segundo
Nicoli, está em curso uma nova repactu-
ação com a Fundação Renova para am-
pliar o programa de auxílio emergencial.
O MAB, que vem mobilizando os atingi-
dos, também defende a implantação de
um plano de monitoramento da saúde,
para dar assistência ao grande número
de adoecidos por conta dos efeitos cau-
sados pelo desastre de Mariana."
LEIA REPORTAGEM DE FABIOLA MENDONÇA