Antigona Gaucha
" Passados mais de dez anos, os familiares dos 242 mortos e 636 feridos no incêndio da Boate Kiss, na cidade gaúcha de Santa Maria, estão fartos de esperar por justiça. Em 2021, os proprietários da casa noturna, Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann, assim como o músico e o auxiliar que tiveram a irresponsável e desastrosa ideia de usar artefatos pirotécnicos em um show em ambiente fechado, foram condenados a cumprir penas entre 18 e 22 anos de prisão. Mas o alívio pela punição dos responsáveis pela tragédia durou pouco. Em agosto do ano seguinte, a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul decidiu anular o resultado do julgamento – decisão confirmada pelo Superior Tribunal de Justiça no início deste mês.
"Sei que a anulação foi dolorosa, mas o STJ
assim decidiu. O caso da Boate Kiss deve-
ria servir para que fizéssemos uma refle-
xão acerca do comportamento do Esta-
do brasileiro”, propõe o jurista. “Desde a
aurora da civilização, não se pode negar
enterro aos mortos e, no caso da Kiss, há
um enterro simbólico negado há mais de
dez anos. Além de prolongar o desfecho
dessa história, essa demora está seques-
trando as almas dos mortos e dos vivos. Na
tragédia grega de Sófocles, Antígona mor-
reu enfrentando Creonte, o rei, para ter o
direito de enterrar seu irmão.”"
leia reportagem de RENE RUSCHEL