Vamos falar de independência.
LILIA SCHWARCZ
Você sabia que o famoso 7 de setembro de 1822 não teve grande impacto no ano de sua realização? D. Pedro foi aclamado no Rio de Janeiro, então capital do vice reino, e só a partir de 1827, numa carta escrita pelo primeiro imperador, e clamando por seu próprio protagonismo, é que a data começou a ser, lentamente celebrada.
Você sabia que o primeiro estado a reconhecer a emancipação política do Brasil foi Angola? Isso pois as elites agrárias não queriam interromper o tráfico de escravizados?
Você sabia que a mais famosa imagem criada sobre o 7 de setembro, foi uma encomenda do império ao artista Pedro Américo, que a elaborou em grande parte na Itália? A imagem não tem nada de “verista” (no sentido de verdade) e é em sua maior parte imaginada? Não existia colina, d Pedro estava montado em um burro (e não em um cavalo), o rio Ipiranga não poderia estar tão próximo e o príncipe não usava roupas de gala pois não vinha de missão exatamente oficial? Mas Pedro Américo tratou de explicar em livro de sua autoria: “em nome da nação sacrificava a nacionalidade”.
Você sabia que a famosa tela, criada para ficar no Museu do Ipiranga, chegou em 1888 e ficou guardada nos porões da faculdade de direito só podendo ser apreciada em 1895 e inaugurada oficialmente em 1922 — no centenário da independência? Até então circulou só em preto e branco, pois foi registrada pelo artista ainda em Florença. Mas logo virou ícone da independência, mesmo sem cores. Ela representava a elevação e o triunfo da monarquia, que estava com os dias contados e cairia em 1889.
(Essas e outras histórias Carlos Lima, Lúcia Stumpf e eu contamos no livro “O sequestro da independência”)