Inteligência Artificial: a era das máquinas pensantes
"Ela lembra o exemplo da eletricidade, uma tecnologia que é frequentemente comparada à IA, tanto por seu potencial transformador quanto pela atenção que chamou, à sua época: “Em seu primeiro século, experimentos com eletricidade deram origem a novas ciências como a eletroterapia, posicionando as correntes elétricas como uma panacéia para uma série de doenças médicas. As pessoas lotaram as salas de aula para assistir a cientistas tentando reanimar os mortos. Livros médicos ofereciam conselhos sábios sobre a melhor forma de administrar choques elétricos em crianças. A eletricidade foi empregada como uma cura para a cegueira, tratamento para o câncer, bálsamo para uma ferida infectada e tônico para qualquer número de queixas sobriamente diagnosticadas como ‘histeria feminina’. Muitos desses tratamentos, inicialmente apresentados exaustivamente e aceitos acriticamente, acabariam sendo descartados como charlatanismo. Ao longo do caminho, os investidores perderam milhões, os pacientes ficaram sem dinheiro e pessoas foram feridas, mutiladas e mortas. Alguns desses tratamentos, com o benefício de pesquisa e avaliação, testes e padrões de segurança, passariam a fazer parte da medicina moderna. Eles assumiram novos nomes e formas. Na Austrália, acabariam por permitir a invenção do marcapasso elétrico e dos aparelhos auditivos.”
Silvio Meira oferece à Continente o mesmo argumento, de maneira mais contundente: “Não acho que deveríamos regular agora o que não podemos entender ainda. Regular IA agora é como regular deuses: que deuses podem ‘existir’? Um deus-sol pode? Um de longas barbas brancas, que cria o universo, pode? A resposta é que, como todos são uma criação humana, todos os que criamos, podem, e são ‘naturais’, porque criação da natureza humana. Mas nem todos são sustentáveis. Seleção natural existe até para deuses. Ainda é muito cedo para regular a IA. Ainda não criamos nem o começo dessa história. Estamos escrevendo software há mais de 75 anos, e ainda não regulamos como o software deveria ser escrito e teria que funcionar. Tem algum ensinamento aí. A gente deveria refletir sobre isso. Enquanto ainda é tempo”.
Vivemos tempos interessantes, como diz o ditado apócrifo da maldição chinesa. Não temos tempo de temer a morte, mas é preciso estar atento e forte. Mais perigosos do que seus defeitos, talvez, seja a dependência que toda a sociedade terá das IAs. Como os nativos do filme, com a garrafa de coca-cola. Em breve, pode ser que ninguém mais saiba escrever parágrafos, ou pintar quadros, ou tocar instrumentos musicais. Que o potencial da IA sirva a propósitos mais nobres do que contribuir com nossa própria alienação."
leia mais no artigo de YELLOW & DAVI AUGUSTO
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