De olho na foto e na encenação
de Lilia Schwarcz
Toda vez que está prestes a enfrentar algum problema político, Jair Bolsonaro recorre a uma nova cirurgia, para assim causar comoção.
Desta vez, o motivo deve ser a delação premiada que seu ajudante de ordens, o já famoso “faz tudo Cid”, deve apresentar.
Pois bem, não será coincidência o fato da assessoria do ex-mandante divulgar essa foto para mostrar como estava novamente sendo submetido a uma operação de emergência.
A ideia é sempre associar sua imagem à da vítima, que levou uma facada em Juiz de Fora, enquanto estava em ação: teoricamente, protegendo seu povo.
Na imagem, vemos o ex-presidente de olhos fechados, cabelos e o peitoral (atlético?) à mostra; tudo para corroborar a representação de “um forte”.
O assistente parece observá-lo de maneira penitente. Tudo pronto para mais uma “santificação” de Jair, que estaria, a se seguir o clima da foto, sofrendo em nosso nome.
Agora pergunto:
1 Que hospital sério permitiria um fotógrafo na sala, no meio de um procedimento cirúrgico? Pois há uma pessoa fotografando tudo, certo?
2 Que procedimento cirúrgico é esse em que o paciente não está de touca, para evitar o contato com o cabelo e deixar o ambiente higienizado?
3 Reparem também que o mesmo assistente, de roupa cinza, não usa luvas? Já viram isso acontecer numa sala de operação?
Ou a cena toda é pura fantasia, peça de propagando, ou o médico de Bolsonaro e o hospital precisariam ser processados por falta de higiene e de procedimentos corretos numa ocasião como está.
Em um ou outro caso, a foto é lamentável. Não se manipula a opinião pública a partir de fotos forjadas como essa. Hora de fazer o jogo dos 7 erros. Achei 3, devem faltar mais quatro. (Em tempo: nada contra os profissionais médicos envolvidos que têm seus padrões. Me preocupa mesmo a encenação)