De Olho na Foto
LILIA SCHAWRCZ
De olho na foto (infelizmente). Acreditem, não gostaria de dar mais nenhum post com imagem de Bolsonaro. Mas é necessário desmontar as farsas de uma representação como essa. Hora de ler a imagem e a trucagem que contém, em sua associação com a ideia do “salvador”.
Vale lembrar, em primeiro lugar, que Jair não é o primeiro dirigente masculino a mostrar-se dessa maneira. Outro presidente autoritário, Vladimir Putin, da Rússia, entre outros, já fez foto semelhante. E quando há reiteração, há intenção.
Vamos à foto de Bolsonaro. Com esse registo ele procura mostrar sua virilidade — seu “corpo de atleta”, como gosta de lembrar. Coisas de supostos heteronormativos.
Mas a imagem faz sentido em contexto. A foto circulou no sábado passado e foi postada pelo assessor de Bolsonaro, Fábio Wajngarten, logo depois da decisão do TSE de tornar o ex dirigente inelegível.
Expressão de martírio, olhar compungido o “ex” interpreta o lugar de um salvador, martirizado por seus algozes. Wajngarten trata de assegurar a leitura, escrevendo: “Bolsonaro é uma "vítima dessa tal democracia". “Tal democracia” alude a exterioridade, como se Bolsonaro e sua quadrilha se apartassem dela.
Existem outros detalhes a anotar. O registro visual é de autoria do fotógrafo João Menna e faz parte de ensaio fotográfico publicado em abril deste ano. Portanto, o assessor requentou a foto para que ela ganhasse significado nesse contexto.
Mais elementos. Vejam como o “ex” traz no pulso seu relógio simples (bem diferente do que aquele que recebeu da Arábia Saudita) e uma pulseira de plástico azul. O adereço acompanha o “ex” desde que ele foi internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, após atentado de 2018. A pulseira traz a mensagem bíblica “protegido pelo sangue – Apocalipse 12:11”. No mesmo braço o anel de casado, mostrando compromisso.
Bolsonaro pode se retratar como quiser. Mas sabemos que significados se fazem em contexto. Circular essa foto nesse momento; destacar a cicatriz na barriga e com esse texto no pulso, significa apostar na imagem do “mito” que não morre jamais.
Pelo jeito, a justiça e a democracia não têm nada a ver com isso. Não é o sangue que protege. Mas a lei!