Saldo da confusão com Marcos do Val será Bolsonaro investigador como golpista
Leonardo Sakamoto
Bolsonaro usou o silêncio público após a derrota nas eleições para tentar derrubar o Estado democrático de direito. Isso ficou claro através do fomento a acampamentos terroristas, de ação para tentar anular 59% das urnas, da minuta de golpe militar na casa de Anderson Torres, em conspiração com membros das Forças Armadas e, agora, na tentativa de arapuca contra um ministro do Supremo Tribunal Federal para embasar um golpe.
Não é à toa que Jair Bolsonaro segue nos Estados Unidos, fugindo da Justiça brasileira.
O senador Marcos do Val (Podemos-ES) relatou, nesta quarta (1), que recebeu do então deputado federal Daniel "Surra de Gato Morto" Silveira (PTB-RJ) ao lado do ainda presidente uma proposta para armar uma arapuca do tipo "teste de fidelidade" para cima do ministro do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes.
A ideia era provar que ele atropelou a Constituição. Vale lembrar que não é necessário que ele dissesse nada de errado, uma vez que as táticas de descontextualização e criação de desinformação da extrema direita fariam o resto.
A proposta de conspiração é tão tosca e infantil que é bem verossímil que tenha sido mesmo construída pelo bolsonarismo. Jair teria mostrado, segundo o senador, que concordava com a ideia de jerico na reunião em que ela lhe foi apresentada.
"Eles me disseram: 'Nós colocaríamos uma escuta em você e teria uma equipe para dar suporte. E você vai ter uma audiência com Alexandre de Moraes, e você conduz a conversa pra dizer que ele está ultrapassando as linhas da Constituição. E a gente impede o Lula de assumir, e Alexandre será preso' ", afirmou à Camila Bomfim, da GloboNews.
"Se aceitar a missão, parafraseando o 01 [Bolsonaro], salvaremos o Brasil", afirmou Daniel Silveira a Marcos do Val, dizendo que o senador seria um "herói".
Ele disse que pensaria na proposta, mas, em seguida, levou o caso ao próprio Alexandre de Moraes. Agora, anunciou que vai renunciar ao cargo e voltar a morar nos EUA.
A arapuca lembra aquele manjado quadro usado por programas sensacionalistas em que maridos ou esposas querendo mostrar a infidelidade de seus companheiros, armavam uma arapuca com pessoas atraentes dando em cima deles usando equipes de gravação e microfone escondidos. Quase sempre terminava em barraco.
Pior: uma pegadinha do Gibe que eram mais perigosas que aquelas do Ivo Holanda.
Bolsonaro já havia se tornado oficialmente investigado pelo STF no inquérito que apura a instigação e autoria intelectual dos ataques golpistas de 8 de janeiro em Brasília após pedido da Procuradoria-Geral da República. A Justiça já conta com elementos para abrir outro por crime contra o Estado democrático de direito.
Com base nisso, o Ministério Público Federal poderia pedir uma ação mais contundente contra o ex-presidente.
Coincidentemente, Daniel Silveira foi preso, na manhã desta quinta (2), um dia após deixar o cargo como deputado federal e perder o foro privilegiado. A prisão foi determinada pelo STF por descumprimento de medidas cautelares. Segundo a Polícia Federal, haveria uma grande quantidade de dinheiro na casa dele no momento da detenção.
Aviso à Justiça: quem também não tem foro privilegiado é Jair Bolsonaro. Há 33 dias.
UOL