Richarlison começou a Copa brilhando, e ninguém merece mais do que ele
de CASAGRANDE
Cheguei cheio de expectativa ao Lusail Stadium, como todos os torcedores — e não só brasileiros, mas do mundo inteiro —, para ver o desempenho da seleção brasileira.
Mas o primeiro tempo deu sono, de tanta lentidão e passes para o lado. A Sérvia ditou o ritmo lento do jogo e o Brasil aceitou isso com total passividade, sem nenhuma ousadia.
A escalação com três atacantes e mais o Neymar na armação nos fez sonhar de que o time iria para cima. Mas, no primeiro tempo, foi totalmente ao contrário.
Vinícius Jr e Raphinha mais correram atrás de lateral do que partiram para cima. Foi um primeiro tempo de futebol burocrático e muito chato de se assistir, sem iniciativa. A não ser pela uma ótima enfiada de bola do Thiago Silva para o Vinícius Jr, que forçou o goleiro sérvio sair nos pés do atacante, porque foi uma bola de gol.
A Sérvia fez o jogo que queria, ficando com a posse mesmo que tocasse só para os lados, esperando uma brecha para conseguir cruzar na aérea para o Mitrovic — o que conseguiu algumas vezes com perigo.
Neymar foi uma figura completamente apagada no primeiro tempo. Não criou, não chutou a gol, não deu um passe importante. Aliás, perdeu muito a bola na tentativa de dribles em lugares mortos do campo.
Richarlison foi muito mal na primeira etapa. Não estava à vontade jogando totalmente de costas para o gol.
No segundo tempo, algumas coisas ficaram do mesmo jeito, mas muita coisa mudou.
O que continuou do mesmo jeito?
O futebol fraco que Neymar apresentou, com muitos erros de passe, sem velocidade e muito distante do ritmo de jogo dos outros jogadores da seleção. Ele pode ser importante, sim, nessa Copa, mas aceitando que o protagonismo mudou de pés.
Chegou a vez de Vinícius Jr, Rodrygo, Antony e, obviamente, Richarlison.
E o que mudou?
A agressividade e a velocidade da seleção melhoraram muito. O Brasil começou a ditar o ritmo e a dinâmica da partida, e isso me agradou muito mesmo.
Mas vou falar do jogador que voltou diferente do intervalo e praticamente decidiu a partida.
Ele mesmo, Richarlison .
Que não se achou o primeiro tempo todo. E, no segundo, não acharam ele dentro da área.
O primeiro gol foi de oportunismo puro, de um cara esperto e focado dentro da área. Porque um gol como aquele só faz quem está ligado no jogo. Espírito de luta nunca faltou para Richarlison, nem na bola e muito menos na vida.
O segundo foi um golaço: ele dominou a bola, deu uma subida e, de voleio, definiu o jogo.
Na seleção brasileira, ninguém merecia mais do que o Richarlison começar a Copa dessa forma.
Um cara que não perdeu a sua raiz e se preocupa com o seu país, sem precisar de candidato ou de partido político.
Ele, sim, comprou cilindro de oxigênio quando o pessoal de Manaus estava morrendo sufocado por causa da perversidade e da incompetência do ex-ministro Pazuello e do seu chefe.
Richarlison conta a sua história de pobreza e se sente orgulhoso pelo que construiu na sua vida através de muita luta e talento.
Ele fez os dois gols da vitória da estreia do Brasil na Copa, mas já vinha fazendo golaços para o povo brasileiro faz tempo.
Acho que a garotada do mundo está vendo surgir um verdadeiro ídolo. Um ídolo que não ostenta, que se preocupa, que apesar de ser um jogador da seleção brasileira numa Copa do Mundo é, antes disso, um verdadeiro cidadão brasileiro.
UOL