A esquerda encontra um idolo na Seleção
MILLY LACOMBE
Numa seleção inundada de apoiadores da extrema-direita brasileira e de alienados políticos, a esquerda busca há anos um ídolo para chamar de seu.
E eis que Richarlison se apresenta com pompas.
Embora tenha posado sorridente ao lado do presidente de tendências nazi-fascitas recentemente demitido, o centro-avante é o único que ousa se posicionar em nome de causas sociais.
Ele faz isso há anos.
Já falou da importância das vacinas, defendeu a ciência, cobrou punição ao comerciante André de Souza Aranha, acusado de estuprar Mariana Ferrer. se manifesta a respeito da urgência das causas ambientais... só faltou mesmo fazer o L.
Cansados de craques ocos de conteúdo, torcedores e torcedoras com consciência social estavam desesperados por alguém que pudesse ser gigante em campo e igualmente enorme fora dele.
Especialmente depois de um período tão horroroso da nossa história, especialmente tendo que negociar torcer para uma seleção politicamente miserável, especialmente depois de Neymar declarar apoio oficial a um presidente monstruoso e de nos ameaçar com a homenagem que faria (fará?) ao derrotado Bolsonaro em ocasião de gol marcado.
Richarlison é muito jovem (25 anos) e ainda pode amadurecer para ser essa voz na seleção. Quanto mais forte ficar em campo, mais poderá falar fora dele.
No começo será voz solitária, mas certamente conquistará muitos corações e mentes ao longo do caminho.
Tomara que a neymarização que tomou conta do ambiente da seleção não desanime Richarlison.
O segundo gol que ele fez hoje é expressão artística rara. Uma acrobacia maluca em busca da bola e de metê-la no gol a todo custo.
Um movimento de Neo em Matrix feito de improviso para mostrar que o futebol brasileiro respira nas frestas.
Gol de craque. Gol de gênio. Gol que deixa a gente sonhar não só com o hexa mas com o nascimento de um ídolo como esse país merece ter.
UOL