Bolsonaro explora emergência da guerra ao reativar velhos desejos
Bruno Boghossian
Jair Bolsonaro já demonstrou ser um político pouco habilitado para situações de emergência. Depois que o mundo viu surgir um vírus mortal, o presidente deu de ombros e, por mais de dois anos, sustentou um desinteresse ímpar. Quando a chuva devastou cidades do Sul da Bahia, no fim do ano passado, ele preferiu manter uma programação de passeios de jet ski em Santa Catarina.
A serenidade do capitão se repetiu com a guerra na Ucrânia. Na largada, o Palácio do Planalto esboçou reações tímidas à invasão e se recusou a lançar um alerta para os brasileiros que viviam no país. O primeiro avião da FAB para retirar refugiados da região só deve decolar para a Polônia na segunda-feira (7).
Apesar da apatia, ninguém pode acusar Bolsonaro de ignorar potenciais ganhos políticos em momentos de crise. Assim que surgiram os primeiros sinais de que a guerra teria impacto no fornecimento de fertilizantes ao Brasil, o presidente correu para usar esse perigo a favor de um velho desejo: liberar a exploração mineral em terras indígenas
Uma proposta do governo com esse objetivo existe desde 2020. Na quarta-feira (2), Bolsonaro citou a guerra como justificativa para aprovar o projeto e buscar potássio em áreas protegidas. No dia seguinte, o líder do governo começou a trabalhar para desengavetar o texto.
O projeto vai além dos fertilizantes. Facilita o garimpo, o agronegócio e obras de infraestrutura nas terras demarcadas. Além disso, a extração de potássio poderia levar anos para começar. Cansado de comer pelas beiradas, Bolsonaro explora a urgência da guerra como pretexto para obter avanços em sua agenda.
O presidente também cresceu o olho sobre as bombas de combustíveis. Na quinta (3), ele disse que a Petrobras deveria reduzir sua margem de lucro para amortecer o impacto da alta do petróleo sobre os consumidores brasileiros. A proposta faz sentido como medida emergencial, mas Bolsonaro também aproveita o momento para ganhar espaço em sua queda de braço com a petroleira.
FOLHA