Em busca de um futuro soberano - CartaCapital

"Em uma visão liberal, a simples abertura garante um processo virtuoso de desenvolvimento. Mas não é isso que países como México e Brasil testemunham. Ao final, por que uma empresa multinacional alemã vai investir em capacidade tecnológica no Brasil se tem instalações de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) na própria Alemanha ou nos EUA? O que a China conseguiu fazer é subordinar a longo prazo esses investimentos a objetivos de desenvolvimento definidos internamente, gerando capacidade tecnológica endógena. O governo dos EUA e a União Europeia reclamam de transferência tecnológica forçada, mas é uma negociação. O que as empresas ganham hoje é acesso a um mercado grande e dinâmico. No fundo, a China conseguiu fazer o que Celso Furtado queria que o Brasil fizesse: “Devemos ter um estatuto legal que discipline a ação do capital estrangeiro, subordinando-o aos objetivos do desenvolvimento econômico e da independência política.”
O autor considerava que um país não deve relegar ao capital estrangeiro a prerrogativa de seu desenvolvimento, uma vez que “os mercados internacionais tendem a ser controlados por grupos de empresas, cartelizados em graus diversos”. Há ainda outra perna: é preciso ter empresas e centros de pesquisa nacionais como agentes dessa capacidade industrial tecnológica endógena. Desenvolver centros decisórios dentro do País. Se é verdade que o Brasil não é comparável ao mercado pujante da China, tampouco é verdade que é um mercado irrelevante. Desde o segundo governo Lula até 2014, o Brasil era o quarto maior mercado consumidor de automóveis, ou seja, se vendia mais carros aqui do que na Alemanha, ficando somente atrás de EUA, China e Japão. Isso não daria ao País uma margem de negociação maior para pactuar investimentos em tecnologia?"
leia artigo de Giorgio Romano Schutte