Rato pariu um rato, e governo Bolsonaro acabou
Marcos Augusto Gonçalves
Seria um erro dizer sobre as manifestações do 7 de Setembro que a montanha pariu um rato.
Para início de conversa, não há mais montanha. A onda bolsonarista de 2018 passou e a popularidade do presidente murchou nas pesquisas, acompanhando os desastres de seu governo. Continua a haver, contudo, dentre os 25% a 30% que bem avaliam sua atuação, uma base bovina mobilizada e mobilizável, como se viu no rodeio bananeiro e patético de Brasília, com direito a Nelson Piquet no papel de piloto do atraso, e no cortejo da Paulista.
Mais adequado, portanto, nesse caso, dizer que o rato pariu um rato. A imagem é sugestiva não apenas pelas reverberações morais e políticas que evoca, mas também pela proporcionalidade entre criador e criatura.
O que se viu na Esplanada e em São Paulo foram manifestações compatíveis com a estatura de quem as concebeu. Uma
tentativa assustada de assustar as instituições, na qual o presidente,
na impossibilidade de apresentar qualquer coisa de útil e crível ao
país, se ofereceu em tom sacrificial ao rebanho fanático e aparvalhado.
Desconetactado da realidade, mentalmente desequilibrado, acossado pela possíblidade de ser preso ou tornar-se inelegível, Bolsonaro passou o dia em surto, a brincar de soldadinho de chumbo, andar de helicóptero, atacar o Estado de Direito e dizer que não vai obedecer mais determinações de seu fantasma dileto, o ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Bolsonaro sempre foi um erro monstruoso, que contou com apoio da massa idiotizada e de gente que teve todos os meios para estudar e se preparar para exercer uma liderança civilizatória, mas que insiste em atalhos oportunistas e optou por atuar nas entidades empresariais, na mídia e nas instituições políticas para eleger o capitão fascistóide —aquele que, como se repetia enganosamente, iria apenas cuidar da pauta conservadora de costumes enquanto Paulo Guedes providenciaria a revolução liberal.
Menos mal que as manifestações deste 7 de Setembro não tenham dado ao presidente o anabolizante que poderia eventualmente animá-lo a seguir com o golpe que tanto anuncia e tanto deseja. Foram bem simbolizadas por aquele pênis inflável verde e amarelo que apareceu na Paulista e circulou em fotos pelas redes. Foi a isso que se reduziu o governo.