Carta a Bolsonaro neste Sete de Setembro
Guilherme Boulos
Chegou o seu dia, Bolsonaro. O dia que você preparou com afinco, dia D e hora H, como diria um coronel que você arrastou para a lama consigo. Sabemos palavra por palavra o seu discurso de hoje no caminhão de som da avenida Paulista: vai falar que o STF não te deixa governar, ameaçar sair das "quatro linhas da Constituição", pregar o voto impresso, exaltar militares que te seguem, desacreditar as pesquisas blá-blá-blá...
Sua audiência aplaudirá efusivamente, erguendo faixas intervencionistas e, quiçá, cometendo atos de covardia em algum canto do país. Mas no fundo você sente que sua massa de estimação já está descolada do Brasil real. Não estamos mais em 2018. Lá suas pregações confluíam com um desejo de mudança, com um feroz sentimento de antipolítica. Agora o problema é você. É o preço da gasolina, do gás, do feijão. O morticínio da pandemia, o desemprego, enfim, os feitos desumanos do seu governo. Seu discurso prega para convertidos, mas está alheio às preocupações do povo.
Você está com medo, Jair. Também, pudera: Carluxo sentindo o cheiro da cadeia, CPI fechando o cerco e até o 04 pode entrar na dança. Nas suas palavras de ameaça vejo um homem desesperado, mal resolvido, acuado pelo turbilhão dos fatos. Você não vê alternativa a não ser dobrar a aposta, fugir para a frente. É assim que você lida com seus medos desde Eldorado Paulista ou, depois, tentando explodir quartéis.
Getúlio, quando acuado por forças golpistas em 1954, deu sua vida à nação e adiou o golpe militar por uma década. Brizola, vendo a mesma marcha em 1961, entrincheirou-se no Sul e deu início à Campanha da Legalidade. Jango, três anos depois, mesmo sitiado, promoveu o Comício da Central do Brasil e manteve-se fiel aos interesses do povo até o final. Tiveram todos grandeza histórica. Mas grandeza é uma palavra que você desconhece.
Prefere deixar o país refém de suas alucinações e tentar jogar-nos a todos no mesmo abismo em que você se encontra. Tudo para salvar a própria pele e a dos seus. Você não tem ideais, não tem projeto, é movido apenas pelos ressentimentos que acumulou ao longo da vida e por um instinto animalesco de sobrevivência.
Nada indica que vá dar certo, não importa quantas pessoas você coloque hoje em Brasília e na avenida Paulista. Sua única chance é que instituições que têm muito a perder —ao contrário de você— embarquem numa aventura suicida. Convenhamos, Jair, é improvável, até porque neste caso ao vencedor não sobrariam nem mesmo as batatas. Apenas um país ingovernável, sem credibilidade e com terra arrasada. Mesmo assim você foi para o tudo ou nada. Vejamos o que este dia 7 reserva ao Brasil, mas para você pode ser o início do fim.