Preocupação de militares com imagem no governo Bolsonaro ficou no passado
Bruno Boghossian
Os militares torcem o nariz para a ideia de participar de ocupações em favelas dominadas pelo crime organizado. Além do risco de conflitos, os comandantes costumam demonstrar receio de que seus homens se envolvam com policiais corruptos, milicianos e traficantes que atuam nessas comunidades.
"Há preocupação de contaminação das tropas e, por isso, queremos evitar o uso frequente das Forças Armadas", disse o general Eduardo Villas Bôas, então comandante do Exército, ao jornal O Estado de S. Paulo em 2018. "Temos preocupação e estamos permanentemente atentos."
Os generais sabem que uma farda não torna ninguém automaticamente honesto. As Forças Armadas, no entanto, preferiram ignorar esse pressuposto quando surgiram suspeitas de corrupção envolvendo militares no governo Jair Bolsonaro. Por apego ao chefe, os comandantes escolheram proteger o presidente e falar grosso para abafar as acusações.
Os militares consideravam um erro patrulhar favelas, mas se envolveram com gosto em ações desconectadas de suas funções neste governo. A preocupação com a tal contaminação das tropas e com danos institucionais ficou pelo caminho quando generais e coronéis assumiram orçamentos titânicos e dividiram gabinetes com políticos do centrão.
A admissão de que militares podem protagonizar desvios valeu apenas para cabos e soldados nas vielas do Rio. Quando a CPI da Covid elencou oficiais citados em investigações, nenhum comandante prometeu atenção permanente às suspeitas. Em vez disso, as Forças lançaram uma ameaça ao Senado.
Se algum dia os generais estiveram realmente preocupados com os prejuízos que sofreriam ao lado de Bolsonaro, isso é coisa do passado. Ninguém parece disposto a abandonar o governo e voltar à caserna.