Braulio Tavares fala sobre Crimes Impossíveis e clássicos da ficção policial
"Existem mil variantes, mas a situação mais simples é uma pessoa assassinada dentro de um aposento trancado por dentro, de tal modo que seria impossível o criminoso ter entrado e ter saído. Sobre essa premissa simples, foram construídas milhares de variantes. Uma tendência importante é a que cria métodos engenhosos para trancar o quarto pelo lado de fora. Por exemplo: há um ferrolho por dentro da porta, e o assassino, depois de sair, usa um ímã que movimenta o ferrolho pelo lado de fora. Eu tive essa idéia quando tinha uns 15 anos e lia muito esse tipo de conto. Claro que descobri, depois, que mil pessoas já tinham usado esse método. Outros métodos consistem em deixar algum mecanismo disfarçado dentro do quarto para que ele se tranque sozinho após a partida do criminoso. Por exemplo, a tranca está conectada a uma vela que é deixada acesa, e quando a chama da vela chega a um certo ponto ela desencadeia o mecanismo simples (cordões, palitos, etc.) que faz tombar a tranca. São métodos que deixam pequenos indícios materiais; a polícia vê mas não dá importância, mas o detetive examina e acaba deduzindo o que aconteceu. São contos de mistério e de engenhosidade, que estabelecem um desafio entre o autor e o leitor. O autor propõe uma situação que parece sobrenatural (parece haver nela o envolvimento de espíritos, uma desmaterialização, sei lá o que) mas depois vê-se que ela pode ser explicada de maneira concreta, material, realista. É claro que a partir de certo ponto, da década de 1930 em diante, isso foi chegando a um paroxismo barroco. As situações criadas pelos grandes mestres do gênero (John Dickson Carr, Edward D. Hoch, Clayton Rawson, etc.) são tão complicadas que fogem por completo ao romance realista, são situações altamente improváveis e rebuscadas, embora nada rigorosamente sobrenatural aconteça. E se transforma numa literatura lúdica, um jogo de raciocínios, onde a criação literária do tipo psicológica e social fica totalmente em segundo plano."
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