O que o benefício para combate à pandemia revelou

CÁSSIA ALMEIDA

Tentar distribuir renda a quem precisa de forma emergencial expôs o tamanho da nossa carência e os efeitos da pandemia no mercado de trabalho. O governo estimava que a demanda seria de 54 milhões de pessoas, agora já fala em 70 milhões, o que alcançaria 66% da força de trabalho, o conjunto de empregados e desempregados disponíveis para trabalhar. Surgiram novos pobres com a quarentena, que tinham renda, mas pouca proteção social ou reservas. Não sabemos onde essas pessoas estão para levar recursos até elas.

A questão é que não avançamos nas políticas sociais para identificar as fraquezas da população. O economista Ricardo Henriques, especialista em políticas públicas voltadas para combate à pobreza e de melhoria da educação, diz que o Cadastro Único deveria ser uma ferramenta muito mais eficiente neste momento, se fosse possível mapear as diferentes vulnerabilidades das famílias. A injeção de recursos seria mais certeira. Para ele, “o cadastro deveria ser o pivô de uma composição de ofertas de políticas sociais de um tipo para a família A, outro para a família B. Avançamos relativamente pouco nessa ousadia de ter uma infraestrutura social de articular as múltiplas vulnerabilidades.”

O auxílio emergencial de R$ 600 que o governo está distribuindo para trabalhadores informais expôs o quanto ainda são precários os registros no Brasil, até mesmo o que parecia mais abrangente, o cadastro de pessoa física, o CPF. A recomendação dos especialistasparaqueodinheirochegasse rápido era usar o CPF. Mas não foi o que se viu. Uma multidão se aglomerou em agências da Receita Federal espalhadas pelo país para regularizar o CPF, por inúmeras razões. Tudo o que não poderia acontecer. Expôs os que precisam mais à doença, em um país onde acesso à saúde é desigual.

Precisamos olhar e pensar em políticas para incluir essa população em um sistema de proteção social mais eficiente.