A Lava Jato como álibi

"Sergio Moro e Deltan Dallagnol, protagonistas, vêm de lá para cá misturando estratégias de autodefesa. Alternaram a fase do “tudo normal, portanto legal”, um contrabando da legalidade dentro da normalidade de condutas promíscuas; a fase da “la garantía soy yo, portanto legal”, prêmio exclusivo para pessoas dotadas de nobreza moral; a fase do “se a operação não fosse assim, os ladrões não estariam presos”, aposta contrafactual sem maior esforço argumentativo; a fase “Glenn Greenwald violou regra básica do jornalismo e deveria ter consultado as pessoas envolvidas” (como se Bob Woodward tivesse de perguntar a Richard Nixon antes de disparar o Watergate); e também a fase “o pior já passou, o resto é repetição”. Diante dos planos de enriquecimento pessoal de Deltan, vazados na última semana, entramos na fase “essa campanha contra a Lava Jato e a favor da corrupção está beirando o ridículo”, como tuitou Moro.
A Lava Jato já foi o álibi perfeito. Forçava-nos todos a uma camisa de força: ou se é defensor da Lava Jato ou se é defensor da corrupção. Interditou a crítica. A fraude dessa classificação binária ficou mais óbvia. A Lava Jato foi uma rara oportunidade de aperfeiçoamento institucional. Perdeu-se. Seus operadores falharam no mais elementar. E no fundamental também. Faltou prudência, discrição e ética profissional. Sobrou deslumbramento e desrespeito à lei. A Vaza Jato fez incontornável a corrupção que preferíamos não ver. O negacionismo impediu correções de rota."
mais na coluna de Conrado Hübner Mendes
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