Um país binário
De WILMA VIEIRA
Com 27 partidos com representatividade na Câmara, com milhões de tons de pele, com imigrantes de milhares de nacionalidades, com gente que gosta de todos os ritmos e ritos, gente de todos os credos e crenças, de todas os times e escolas de samba, de todas as idades, de todas as comidas, de todas as artes, de todas as profissões, seremos oficialmente reduzidos a apenas dois grupos. Os brasileiros do sim e os brasileiros do não.
Se tudo correr conforme o planejado, neste final de semana a Câmara dos Deputados protagonizará o primeiro plebiscito indireto da História.
Quando os jardins estiverem lotados de brasileiros, divididos em dois grupos, teremos chegado ao mais baixo de nível de nossa intransigência.
Com o muro, fica institucionalizado que só existe uma verdade: a nossa aqui desse lado.
Só que ao entrar pelo Congresso, seria cômico se não fosse trágico, o maniqueísmo do lado de fora dá lugar a uma plêiade de interesses e opinões.
Lá dentro não é mais o sim e o não que interessam. Lá dentro da Câmara o que interessa é o que cada deputado vai levar com seu voto.
Para eles, que se dane o apartheid que esta classe política medíocre conseguiu impor ao país com régias doses de incompetência e corrupção.
Para eles, que se dane se nos dividiram em dois Brasis.
Para eles o que interessa mesmo é o vil metal. Os conchavos. As vantaginhas. As benesses. Os cargos.
Porque, não se engane. A culpa não é nem de Lula, nem de Aécio. Nem de Dilma, nem de Alckmin. A culpa não é de apenas um. A culpa é de todos, FHC incluído.
A culpa não é sua nem minha. Você votou em quem pode votar. O sistema já estava podre muito antes de você tirar o título de eleitor.
A culpa por esse crash histórico é de uma classe política podre, que se compra e se vende descaradamente.
E não me venha dizer que sempre foi assim, desde 1500.
Bobagem.
No fim do Governo Militar poderíamos ter zerado o "sistema".
Ou na Diretas Já.
Ou na Constituinte.
Ou no Collor.
Mas nunca tomaram vergonha.
Depois de décadas dessa gente porca, inútil, escondida em Brasília roubando o futuro de nossos filhos, finalmente nós chegamos ao sim e ao não. Ao nós e aos eles.
Como se qualquer uma dessas mudanças, impeachment, renúncia, nova eleição, fosse fazer qualquer diferença.
Aqui fora, os sins vão odiar os nãos, e vice versa. Temo que esse muro não vá nem aguentar tanta ira.
Só não percebemos, os sins e os nãos, que o inimigo não mora ao lado. Está lá na frente. O certo não será pular o muro. O certo seria invadir o Congresso e cobrar daquele chiqueiro o que fizeram com o nosso país.
Sério?
ROUBAR um texto meu?