Sobre o que pode uma cronista de tecnologia escrever em pleno sábado de carnaval? Música enlatada.

Houve um tempo em que todos nós gravávamos música que tocava na rádio ou nas nossas vitrolas (assim se chamavam os players da época) para fazer fitas com as nossas favoritas. A circulação dessas fitas entre o meu grupo de amigos era grande, e nunca causou problemas a ninguém, nem à indústria fonográfica, nem aos gravadores das fitas. As produtoras de discos achavam, muito acertadamente, que quanto mais os seus produtos circulassem, mais conhecidos ficariam, e mais chances teriam de ser vendidos.
Nesses tempos de retorno ao cinema mudo,
com “O artista” arrebanhando prêmios onde quer que passe, não deixa de
ser curioso constatar como a primeira atitude das corporações é se porem
contra toda e qualquer inovação tecnológica. Quando o cinema falado
chegou às telas, a American Federation of Musicians pegou em armas
figurativas contra a nova novidade. Criou uma Liga de Defesa da Música, e
inundou jornais e revistas com uma agressiva campanha publicitária
contra a música gravada. Segundo o site da revista do Smithsonian, a
Liga gastou mais de U$ 500 mil em publicidade, pedindo ao público que
exigisse música ao vivo nos teatros e nos cinemas. O vilão da campanha
era um robô mal-encarado que, com o tempo, substituiria todos os músicos
humanos.
Assim como a batalha da MPAA contra o
vídeo-cassete, esta também fracassou. Os pianeiros e as pequenas
orquestras que tocavam nos cinemas acabaram, de fato, mas a indústria da
“música enlatada” abriu um mercado gigantesco para os músicos, que
tanto haviam reclamado…