Na madrugada de 22 de janeiro, um domingo, ou seja, há menos de um mês, a
Polícia Militar irrompeu no terreno ocupado irregularmente e retirou os
moradores de suas casas, tangendo-os para fora do perímetro da
propriedade. Em seguida, máquinas contratadas pelos administradores da
massa falida da indústria de café Selecta, suposta proprietária,
arrasaram as casas, destruindo móveis, utensílios domésticos, documentos
e recordações daquela gente.
Pois bem: CartaCapital acaba de demonstrar que a pressa da
Justiça em mandar devolver o terreno à massa falida da Selecta tem
muitos aspectos suspeitos. Os repórteres da revista realizaram o
trabalho que o resto da imprensa brasileira não soube ou não quis fazer:
foram examinar a história do terreno que é reclamado por Nahas e
descobriram fortes indícios de que a Justiça foi vítima ou cúmplice de
um típico “cambalacho”.
Além das velhas suspeitas de grilagem, diz o texto, sobram provas de
que o especulador tentou de muitas formas burlar o pagamento de impostos
e nunca usou o terreno para outra coisa além de apresentá-lo como
garantia para a obtenção de empréstimos bancários.
A retirada dos moradores pobres deve valorizar ainda mais o imóvel,
que, segundo demonstra a reportagem, não precisava entrar na conta dos
débitos da Selecta para que fossem pagos os direitos trabalhistas
apontados como justificativa para a reintegração de posse. De mesma
forma, não havia outro motivo para tanta pressa na desocupação do imóvel
– a não ser como forma de atender ao desejo de lucro do especulador.