Sonhos
Meu pai dava tiros pra cima pra espantar as nuvens. Nossa casa ficava onde a rua fazia uma curva acentuada no aclive que subia a encosta.
A área que ficava em frente à nossa casa, abrangendo uns 100 metros para cima e uns 200 metros para baixo era o que eu chamava de A Rua. Na rua eu podia brincar à vontade, minha livre circulação. O que não impedia que eu fizesse incursões clandestinas para o alto do morro onde num descampado faziam prospecção de petróleo. Ali havia um acampamento de trabalhadores mal encarados, sujos de óleo, misteriosos.
Descia também nossa rua que dava numa rua maior, numa esquina com um barranco de terra. O perigo de ir até ali era esbarrar com a turma de garotos mais velhos e mais fortes que me zoavam muito, o que era desagradável. Eu dizia que era a turma da zona norte como nas histórias do bolinha.
No barranco de terra tinha um buraco, uma entrada oca que na minha concepção de criança só eu sabia que existia ali, mas que servia bem para eu me esconder quando andava pela rua de baixo e ouvia vindo a turma que eu dizia que era da zona norte como nas histórias da luluzinha.
Mas tudo isso é passado.
No sonho eu aprendo a dar o arranque num automóvel quando numa ladeira. Aquele mecanismo complexo de ir soltando o pé da embreagem enquanto o outro pé comprime lentamente o acelerador e o motor ronca girando, eu num carrinho velho, meu primeiro carro.
Às vezes o carro engasga; às vezes realmente se movimenta para a frente (e para cima). Treino isto e a curva acentuada atrapalha pois os carros vem do alto apressados e da frente de minha casa antiga não vejo se vem ou não.
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