Crentes & Crendices
Vim na barca lendo artigo no NYROB sobre como o Imperador Bush II, ele mesmo um recém-convertido, crente fanático, encheu diversos escalões de seu governo com outros crentes.
Nós sabemos o que é isto, após oito anos sob o casal Garotinho, que conforme definiu há pouco a revista Economist "governavam com a Bíblia numa mão e o talão de cheques em outra".
Acompanhamos daqui os crentismos & cretinismos de Bush, a quem Deus teria salvo de uma vida de drogas, bebedeiras e futilidades para liderar um império rumo ao seu destino divino. Com sua ganancia, por exemplo, em levar "God´s given gift of democracy" para os pagãos no deserto. Mas não avaliamos a extensão com que ele e seus amigos da direita religiosa impuseram suas crendices sobre a nação (afetando o restante do mundo).
Nem os petistas brasileiros conseguiram um aparelhamento como o dos crentes na Amerika. Principalmente nos cargos ligados à Educação e à Saúde, onde os crentes tem crenças muito firmes contra as ciências, como nos casos de abortos, pesquisas com embriões, AIDS, aulas de religião e orações nas escolas, etc. Mas também em postos determinantes para a política interna e externa.
São pessoas que abertamente advogam o fim da separação entre igreja e estado. Parecem com quem? Com os muçulmanos fanáticos.
Isto resultou em ações totalmente no reino da galhofa, como no caso (já comentado aqui) da nova diretoria (crente) que assumiu a administração do Parque Nacional do Grand Canyon e publicou um folheto turístico oficial afirmando que aquele enorme e célebre acidente geográfico tinha sido causado pelo mesmo Dilúvio de Noé. Mas resultou também em ações mais inquietantes quando - dentro dos poderes autoritários assumidos cada vez mais por um governo que se nutre do medo - todos os hospitais foram obrigados a passar ao Promotor-Geral as fichas de todas as mulheres que tinham feito abortos ali. Essas mulheres passaram a ter essas ocorrências registradas em suas fichas de antecedentes criminais.
O Imperador acredita piamente (quer dizer, existe algo pio em tal homem?) que o mundo foi criado em Sete Dias. Por isto seus esforços para que o Criacionismo fosse adotado como matéria científica nas aulas das escolas americanas. Bush é o presidente que, como seu primeiro ato, em seu primeiro dia no cargo, assinou a diretriz que suspendia fundos para quaisquer ONGs no mundo que distribuissem camisinhas ou ajudassem de alguma forma mulheres que tivessem tido ou fariam abortos. Mas os reflexos disto em diversos órgãos são também interessantes.
O Império Americano envia milhões de dólares como ajuda no combate à AIDS na África. Alguma parte desse dinheiro é usado na distribuição de camisinhas? Não. Em campanhas educativas de prevenção à AIDS? Muito pouco. Essa ajuda é direcionada para campanhas a favor da abstenção sexual. Na África! Com aquela cultura de outros valores. E onde, com guerras e outras desgraças, o nível de consentimento das inúmeras pessoas quanto a opções sexuais é nulo.
Outro exemplo que vim lendo na barca: o diretor do serviço de saúde americano no Iraque - peça-chave na futura reconstrução de um país que os EUA devastava - era o médico Frederick Burkle, com experiencia em auxilio a tragédias e trato de refugiados em locais como Kosovo, Somália e com os curdos iraquianos. Foi demitido para dar lugar a um James Haveman. Experiência prévia do Haveman: fora dono de um orfanato voltado a desencorajar mulheres que quisessem realizar abortos. Haverman assumiu e preparou um plano de ação onde o tópico mais importante - consumindo grande parte das verbas e ações - era aproveitar a presença americana no Iraque para ensinar os iraquianos a deixarem de fumar! Isto num país onde... bem, não preciso descrever para vocês o estado dos hospitais e de toda a não-infra-estrutura do Iraque invadido.
As crendices se refletem também nas atitudes governamentais (de avestruz) diante do fenômeno importantíssimo do aquecimento global.
Pois para os crentes fanáticos o aquecimento global é benvindo. Encaixa-se em seus prognósticos apocalípticos. Para a direita religiosa americana, quanto antes ocorrer o fim do mundo, melhor, pois isto significa apressar a volta de Jesus.