Domingo
Voltei do aeroporto num onibus desses frescões
num trajeto tortuoso, abri os olhos e estava em São Cristóvão,
beirei favelas, complexos de alemão, fui por dentro ao invés de via aterros,
cenas passando na janela por hora e meia e era domingo sem transito,
imaginei o tempo passado ali num dia de trabalho engarraado.
O Centro da cidade num domingo à noite era ruas transversais desertas.
Não havia gente naqueles trechos que usualmente estão um compacto de pessoas,
a gritaria dos seres correndo, o movimento agitado dos centristas,
seres que habitam o coração economico do Rio e que agora desapareceram.
Volatizados?
O Centro do Rio num domingo à noite parece os filmes onde caiu uma bomba fantástica ou outra hecatombe imaginária e morreu todo mundo.
Ficam a cidade deserta, os prédios monumentos ao vazio, as calçadas de silêncio.
O efeito pos-apocaliptico é realçado pela quantidade de papeis e detritos jogados pelas ruas.
Aqui e ali, esparsos, moradores de rua (saindo de que tocas onde se ocultaram durante o dia?) agachados em círculos de sombras,
em suas camas de papelão,
alguns acendem fogueiras de caixotes
para se ajuntarem em torno, espectros em cobertores ralos e farrapos.
No filme passando na janela do frescão são os poucos sobeviventes neste Centrão de domingo à noite.
Qu' estranho. Gostaria de vagar por essas ruas de silêncio e sombras mas temeria ser estilhaçado por vagas de mutantes humanóides famintos, o rebotalho do apocalipse social que explode pelo centro de nossos tempos.
Segui no onibus para a glória, vendo prostitutas e travestis com bundas e peitos de fora na balaustrada de pedro nava.