Via IRIS : The Village (M.Night Shyamalan, 2004)
Nos contos de fadas as florestas eram cenãrio constante
mais do que lugar uma presença palpável cercando e cerceando as aldeias e os aldeões.
O desconhecido = o perigo.
Pela floresta afora seguia também o caminho que levava a mudanças e à perda de mao de obra para locais porventura mais interessantes.
Os caminhos eram desertos e sempre havia um lobo mau por perto.
Isto tornou-se atávico em nós que descendemos dos personagens destes contos ou das lendas indigenas ou dos cantos africanos nas clareiras das selvas.
É nessa região geográfica e da mente e neste rincão do medo e dentro desta sociologia dos mores que está localizada o Vilarejo do Shyamalan.
O maior mérito do diretor é recriar e construir com solidez este clima e criar e construir meticulosamente um universo tempo-passado-fora-do-tempo desta vila que seja coerente em todos os detalhes de produçao.
Assim o filme é mais um ficçao-científica (nos moldes classicos, desdes que discutem mais o espaço interno dos homens do que o externo das galáxias) do que um terror.
Shyamalan detonou uma carreira de expectativas com O Sexto Sentido e Unbroken (um dos melhores - senao o melhor - sobre heroi de historia em quadrinhos). E jogou isto fora ao embarcar com Mel Gibson no péssimo Sinais .
Por isto entrei no perimetro desta Vila com apreensáo.
Mas, morando lá, percebi que o filme é excelente.
A parte técnica é elegante, com uma fotografia classuda, uma edição rigorosa que muito ajuda ao nos trazer este universo. Uma historia sutil como na cena em que o par romantico finalmente aproxima os rostos para o beijo mas a cämera se afasta e mostra a cadeira de balanço sozinha na varanda.
Há quem leia no filme toques sobre o uso do medo por nossos Imperadores atuais para manipular seus suditos. E há quem desmereça o filme por considerar apenas a historia da superficie e dizer que sacou muito antes o que realmente acontecia na Vila. Nada disto importa. O filme é bom, além da história e sem a ajuda de monstros como Bush.