SONHOS
Eu era uma cantora/compositora das antigas, tipo uma Joni Mitchell, tipo a personagem de Frances McDormand em Laurel Canyon, morando isolada, distante da carreira, e caminhando um dia no deserto do oeste americano caí por um barranco, deslizando e rolando deslocando a terra e levantando poeira abaixo e quando parei havia desenterrado uns fios
e puxando esses fios
percebi que havia toda um fiacao um sistema eletrico enterrado e escondido ali
e pelo tempos seguintes fui me dedicando a escavar e remover este sitio arqueologico que foi se revelando com microfones e mesas de som e de mixagem
e foi assim que descobri onde fora parar o lendario esquema de gravacao do mais famoso e misterioso engenheiro de som dos anos 60 e que todos acreditavam nao existir mais e muitos acreditavam que nunca existiu.
Com a ajuda de amigos recuperei da terra e reconstitui todo o equipamento que nao estava ali por acaso
o vale no meio do nada continha uma acustica impecavel
ele levara para la este equipamento planejando realizar ali um concerto historico
(musicos tocando no meio do deserto - me veio agora imagens do Burning Man, trilha sonora de Live at Pompeii, mas isso foi agora, nao estava no sonho)
mas ai desapareceu e nunca mais foi visto
ninguem voltou para buscar aquilo
E no sonho toquei ali pela primeira vez e foi forte a sensacao de maravilha com a magia do lugar e a qualidade do som
reuni um mutirao de artistas antigos e nos passamos a tentar recriar ali um concerto semelhante ao que poderia ter sido imaginado entao
o sonho passou a ser os ensaios
sob o calor reverberando pelo vazio
a sensação maravilhosa do som
mas... cresceu entre nos a ideia de que seria um som tao puro e intenso
que nao deveria ser captado ou registrado de alguma forma
acabaria sendo remixado e comercializado e distorcido
entao tocariamos, durante todo um dia e toda uma noite e ate o sol raiar
revezando entre as atracões
e saudariamos o sol nascendo todos juntos no palco que construimos no centro exato do vale de areia e colinas de faroeste
e quando a ultima nota da ultima musica deste mega-concerto se fosse
desmontariamos tudo e enterrariamos de volta
e nunca mais voltariamos para aquele lugar
nao haveria plateia - o concerto era para nos mesmos para a musica e a natureza -
e nada daquilo seria gravado ou registrado
e ninguem falaria disto para mais ninguem.
O que era um contrasenso pois o personagem que criara o equipamento (Cristal Dreams escrito em letras psicodelicas na mesa de mixagem) e cujo nome nao aparecia no sonho ou entao nao me voltou agora
era o mais notorio bootlegger dos anos 60
criava sistemas de sons portateis (na epoca de maquinas musicais trambolhentas) para registrar com agilidade e perfeicao shows e apresentacoes
distribuindo os LPs depois de maneira clandestina
mas numa rede informal de grandes vendagens.
Perseguido pela policia americana (uma especie de RIAA da epoca) always on the move nunca foi pego nem mesmo pela imprensa para a qual jamais dera entrevista
o sonho passa a ser um documentario sobre esse sujeito
que agora era eu
inclusive com a cena famosa onde os canas cercaram minha casa/estúdio mas consegui escapar e furar o cerco e sairam me perseguindo até depararem com uma manifestacao uma passeata num parque onde a turba marchava e cantava e a policia descia o sarrafo e como as coisas saiam de controle tiveram que abandonar a correria e se juntar aos colegas que levavam pedradas
e com isso eu escapei
mas não escapei de acordar.